Moradora faz separação do lixo há mais de 10 anos em sua casa e fala sobre a necessidade do serviço no município. Material coletado por agentes ambientais tem vários destinos.
A moradora da Rua Santa Cruz, que divide o Bairro Santo Antônio e o Centro da cidade, Mariz Luiza Rupp, é um exemplo de que se sensibilizada, a população faz a sua parte. Há mais de 10 anos, Iza Rupp, como é conhecida, faz a separação seletiva do lixo.
O que é reciclável é separado, lavado e entregue a um rapaz que faz a coleta do material em sua casa e em outras duas residências de suas vizinhas. O que é orgânico é utilizado na horta e enterrado nos pés de árvores. “Tudo é limpo, nada é sujo. Só o que vai para o lixo é papel higiênico, jornal utilizado pelos gatos e bituca de cigarro. O lixo orgânico vai para a horta ou nos pés de árvores. Tudo eu separo. Quando eu vejo que não cabe mais o reciclável no porão eu ligo para o rapaz passar e levar o meu, da Regina e da Geni, que são minhas vizinhas”, informou a moradora.
As garrafas de vidro de suco que Iza Rupp compra também tem destino. Elas são entregues a um proprietário de madeireira, que as reutiliza. A moradora declarou também que já procurou o prefeito Nelson Cruz para falar sobre a necessidade da coleta seletiva na cidade. “Fui lá na prefeitura, falei com o Nelson, eu chamo ele de Nelson porque somos amissíssimos e disse que até gato morto jogam no lixo. Eu brigo, luto, mas não adianta você falar, é tempo perdido”, relatou.
O destino do lixo coletado por agentes ambientais
Nossa reportagem visitou três locais onde o lixo reciclável é entregue por agentes ambientais em Campos Novos. Na Rua Jean Martins Ribeiro, Bairro Aparecida, tem um ponto de entrega que pertence à Reciplast, empresa instalada na área industrial de propriedade de Vera Lucia Demarchi, onde também é entregue o lixo coletado na casa de Iza Rupp.
Neste barracão, instalado para facilitar a entrega pelos agentes, são recebidos em média de 800 a mil quilos por dia de material para reciclagem, conforme informou Antônio Marcos Viater, filho de Vera. Depois de separado no barracão, o lixo é levado para a empresa de reciclagem na área industrial.
Entre o material entregue está o papel, a R$0,25 o quilo, plástico a R$ 0,50, ferro a R$ 0,15, misto (jornal, caderno, caixa de leite e revista) a R$ 0,10 e alumínio a R$ 2,20 o quilo. O barracão está funcionando há cerca de cinco anos e recebe o material reciclável de 30 agentes ambientais.
De acordo com Vera Lucia Demarchi, além dos agentes ambientais, a empresa também recolhe material reciclável de cooperativas, oficinas e indústrias, numa média de 30 a 40 toneladas/mês.
O material é separado, enfardado e encaminhado para reciclagem nos municípios de Videira, Fraiburgo, Caçador, Lages e Erval Velho. Para a empresária, a coleta seletiva é viável, desde que haja uma campanha de sensibilização junto à população para que separe o lixo em suas casas. “Nós estamos perdendo muito material, porque daí vai embora por este motivo de estar tudo misturado. Acho que tem mais de 60 carrinheiros na cidade, só eu tenho 25 agentes que entregam material. Se tivesse todo o lixo classificado, eles ganhariam muito mais, porque a maioria vive só disso”, ressaltou Vera.
Ela observou ainda que muito lixo reciclável acaba indo para o aterro porque a separação seletiva não acontece no município. “Porque na verdade está indo para o aterro, isso eles sabem que está indo. Ainda que temos todos os agentes e se não tivesse? Depois de apertarem o lixo naquele caminhão, você não recicla mais nada. Por isso que está indo para o aterro e não é reciclado”, afirmou.
A mesma opinião quanto à viabilidade da coleta seletiva em Campos Novos é dividida pelo empresário do ramo Leandro Demarchi, irmão de Vera e, proprietário da empresa Comércio de Sucatas Demarchi, também instalada na área industrial há mais de 10 anos, que emprega 14 funcionários e recebe o lixo reciclável de agentes ambientais e de cooperativas, oficinas e indústrias. “Se o município der uma mão pra gente, fazer uma propaganda e divulgar bem tem como realizar a coleta seletiva. Fazer de manhã um bairro e à tarde outro. Num bairro grande, você faz um por dia. É viável. O custo do município seria divulgar, o resto a gente arruma uma caminhonete e passa. O nosso lixo de Campos Novos hoje eu acho que 50% do reciclável é perdido. Quem sabe a gente sentar, conversar e organizar. E a licitação precisa se você for cobrar da prefeitura, senão não precisa”, afirmou Leandro.
A empresa de Leandro Demarchi retira cerca de 50 toneladas/mês de lixo reciclável do município de Campos Novos, material encaminhado para reciclagem nos mesmos municípios já citados. Pela tonelada de sucata é pago R$ 250,00. Ele observou também que como o preço do quilo do papelão e misto está baixo, os agentes preferem recolher outros materiais que agreguem mais renda.
Outro ponto de recebimento de lixo reciclável é a Empresa Sucatas Martins, localizada na Rua Juvelino Fernandes da Silva, no Bairro Aparecida, que também recebe material dos agentes ambientais.
Se estima que cerca de 60 agentes façam a coleta na cidade de Campos Novos.
O que diz o diretor da Fundema
Procurado o diretor da Fundação Municipal de Meio Ambiente – Fundema, Gilson Lopes, afirmou que em Campos Novos a coleta seletiva está em estudo e o custo é elevado para sua efetivação. “Na verdade não tem. A coleta seletiva em si ela custa caro, porque você tem que fazer as lixeiras e colocar nos pontos. O que acontece hoje é que os catadores passam e acabam misturando tudo, pegam só o que interessa pra eles, como pet, papelão e latinha e o restante mesmo que seja reciclável, fica. Eu fiz uma palestra com eles faz uns 60 dias para esclarecer sobre isso”, informou o diretor.
A ideia afirmou Gilson Lopes, num primeiro passo é a realização de uma campanha educativa, para posteriormente adquirir lixeiras para o material reciclável e instalar em pontos estratégicos da cidade. A intenção é encaminhar um projeto para a Campos Novos Energia S.A. – Enercan , a fim de buscar recursos para a aquisição das lixeiras.
As ações voltadas à coleta seletiva, porém, teriam início somente a partir de 2016, em função da contenção de custos na prefeitura, devido à crise financeira que atinge o município. “A nossa intenção era colocar essas lixeiras para separação, pelo menos umas 100 pela cidade inteira. A ideia daí é que o caminhão só carregaria o lixo orgânico e os catadores passassem nesses pontos e levassem tudo que é reciclável, não só o que é de interesse deles. Envolve muita gente e um custo que não é barato, nós fizemos um levantamento com a Enercan e teria que investir tranquilamente R$ 50 mil só em lixeiras, mais um tanto em educação ambiental em escolas e com os catadores. Eu acredito que vai demorar um pouco e devemos começar com a educação ambiental junto aos catadores no início do ano que vem”, informou Gilson Lopes.
O diretor da Fundema relatou que ele mesmo separa o lixo reciclável em sua casa, reforçando a importância da separação e coleta seletiva.
Há cerca de um ano nossa reportagem visitou o município de Celso Ramos, que realiza a coleta seletiva e é exemplo na região. Os municípios de Abdon Batista e Zortéa também já contam o serviço.
- Esta reportagem foi publicada na edição impressa do Jornal O Celeiro.