“Uma luz sobre o futuro da Celesc”

OKNa última reunião do Conselho de Administração da Celesc, em setembro, os sindicatos da empresa fixaram no hall da companhia uma grande faixa na qual, em letras garrafais, me apontavam como inimigo dos empregados. Presidi o grupo Celesc por dois anos entre 2011 e 2012 e, nesse período, aplicamos todos os bons métodos de governança corporativa, entre eles um novo estatuto social e a obrigação de se implementar um plano diretor de longo prazo (Celesc 2030). Num trabalho que envolveu toda a empresa e teve como ponto alto o comprometimento de todos, apontamos os caminhos para uma Celesc sustentável que atenda os interesses de seus públicos: mercado, consumidores, empregados, investidores. Trabalhamos com planejamento, previsibilidade e profissionalismo.
Hoje a Celesc é uma empresa melhor. O ano de 2014 fechou com um lucro líquido consolidado ajustado 27,5% maior que 2013. A diferença entre os custos gerenciáveis da Celesc Distribuição – que em 2011 eram 41% maiores do que os parâmetros regulatórios – diminuiu para 24% em 2014, e os indicadores de qualidade na prestação de serviços para os consumidores têm melhorado a cada ano. Mas é a renovação de sua concessão o maior de todos os seus desafios nos próximos cinco anos.
O atual contrato de concessão se encerrou em julho de 2015, juntamente com os de outras 35 distribuidoras do Brasil. A Lei 12.783 de 2013, que criou as bases legais para uma nova prorrogação pelo prazo de 30 anos exige da empresa o atingimento de metas sobre (1) a qualidade do serviço prestado (frequência e a duração média das interrupções do serviço de distribuição), (2) a gestão econômico-financeira (capacidade da concessionária em honrar seus compromissos de maneira sustentável), (3) a racionalidade operacional e econômica e (4) a modicidade tarifária. O atendimento aos dois primeiros critérios deverá ser alcançado pela Celesc no prazo máximo de cinco anos. Somente se a empresa conseguir atingir esses requisitos, terá conquistado a renovação da concessão.
Serei objetivo: a Celesc, após 60 anos, não detém mais a concessão da distribuição de energia elétrica em nosso Estado. E sem a concessão a Celesc não é mais nada: significa na prática a demissão de todos os seus empregados e o uso do seu capital para pagamento de todos os seus compromissos. Nenhum investidor, nem o Governo – e acredito que nenhum empregado – desejam esse fim para a empresa.
Qual a saída? A resposta é adequar todos os custos da empresa – sobretudo de salários – ao dinheiro que os catarinenses pagam na tarifa. Hoje temos um gasto com salários superior a R$120 milhões entre o que entra para salários com o que efetivamente é gasto. Outra rubrica que tem gasto superior ao que a tarifa cobre é MSO (materiais, serviço e outros), que totaliza quase R$40 milhões além do permitido. Esse cenário seria muito pior se não estivéssemos colhendo hoje os resultados das políticas de gestão implantadas nos últimos anos, com a indispensável participação de empregados, investidores e Governo.
Diz o dito popular que quem avisa, amigo é. Não se deve esconder dos celesquianos e da sociedade a gravidade da situação. Em vez de apontar culpados erroneamente, debatam, discutam, ajudem a construir uma saída sustentável, com foco em aumento da produtividade. A empresa tem uma estratégia, mas ela somente será exitosa se todos os stakeholders participarem com o desejo verdadeiro de acertar.

Antonio Gavazzoni, doutor em Direito Público e secretário de Estado da Fazenda
contatogavazzoni@gmail.com

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