Estamos preparados para envelhecer?

Como estaremos na velhice?Reflexões sobre envelhecimento, cuidados, dependência e aceitação desta etapa da vida você confere na reportagem desta semana na nossa editoria de saúde.

Gleice Aparecida dos Santos, psicóloga clínica
Gleice Aparecida dos Santos, psicóloga clínica

O envelhecimento da população mundial se apresenta como uma questão contemporânea que merece debate e atenção. Porém, a sociedade, apesar das constantes vinculações da temática, parece não se preparar ou pensar na própria velhice.

A presente reportagem busca trazer uma reflexão sobre a temida relação entre o processo de envelhecimento e a dependência de cuidados, que irão alternar a rotina tanto do idoso, quanto da sua família.

Para a psicóloga clínica Gleice Aparecida dos Santos, o envelhecer precisa ser melhor avaliado ao longo da vida. “O envelhecer ainda é algo muito novo para nós, ninguém se prepara para o envelhecimento e ao contrário de algumas outras culturas no mundo, onde o idoso é muito mais valorizado, na nossa cultura o envelhecer acaba sendo pensado como algo pesado, deixado de lado, esquecido, desvalorizado. Em função disso, nós não nos preparamos para envelhecer e a gente só se dá conta da velhice quando chegamos a um estágio em que não conseguimos mais fazer o que fazíamos cotidianamente e nos damos conta que algumas mudanças são necessárias para nossa vida”, avaliou a psicóloga.

O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial incontestável, o que significa dizer que há um crescimento mais elevado da população idosa em relação aos demais grupos etários.

Neste processo não nos damos conta do quão é necessário nos preparar para a velhice, período em que muitas perdas são inevitáveis, assim como uma readequação de vida. “Essas perdas mudam as pessoas e nos levam a resignificar nossa vida e muitas vezes não é fácil porque a idade chega e a dependência vem junto, principalmente quando a velhice vem com algum problema de saúde e limitação física”, salientou Gleice.

Limitações físicas ou emocionais podem desencadear doenças orgânicas ou mesmo psicológicas em idosos, entre elas o transtorno da ansiedade que pode passar despercebido em função de outras patologias desenvolvidas nesta etapa da vida. “Na verdade a ansiedade ou até mesmo a depressão na terceira idade muitas vezes passam até despercebidas dos médicos tendo em vista a existência de outras doenças orgânicas. Muitas vezes esta ansiedade ou depressão são diagnosticadas em função de outros quadros físicos. Por exemplo, se medica a pressão alta e se esquece que a ansiedade existe em função da dificuldade de se identificar com esta nova fase da vida”, argumentou.

A psicóloga orienta que para se identificar se há ansiedade ou outra patologia física é preciso estar atento e investigar sintomas como insônia, taquicardia, suor, irritabilidade, tensão, angústia, dificuldade de concentração, tontura, dores musculares e formigamento.

Mudança de conceito

idososaPreparar o idoso para mudar o conceito de que velhice não é sinônimo de que a vida acabou, também é importante. “A gente tem que preparar este idoso para mudar o conceito que ele tem sobre a questão de ser velho. Trabalhar a velhice não como algo que seja o final da vida, mas como mais uma fase, que ele pode viver a vida sim e ter várias atividades pra fazer como tinha quando era adolescente ou mais jovem. O idoso também pode ser muito produtivo, mas vai depender do que ele gosta e aceita fazer. Então algumas sugestões como frequentar grupos sociais da terceira idade, estimular a fazer atividade física, trabalhos artesanais ou leitura, além de melhorar o emocional, acaba acarretando uma melhora em funções mentais básicas, como a memória e concentração, que diminuem com o avançar da idade”, orientou Gleice Aparecida dos Santos.

A longevidade exige adaptações em atividades que o idoso não poderá mais executar, garantindo a sua saúde e bem estar. A inclusão do idoso é cada vez mais uma questão de ordem. “O envolvimento social é muito importante para o idoso, que o leva a perceber que ele continua tendo uma produtividade. Nos clubes da terceira idade, eles praticam atividade física, dança, viajam e trocam experiências comuns. Então quando a gente convence o idoso a participar destes grupos se propicia uma melhor qualidade de vida pra ele e sua família”, orientou ainda a psicóloga.

É preciso se preparar não só para a aposentadoria, mas para garantir qualidade de vida e inclusão social depois dos 60 anos, enfatizou também Gleice Santos. “As famílias estão reduzindo cada vez mais, então a tendência destes grupos de estudo é trabalhar visando preparar estes jovens para envelhecer, além de cobrar para que se tenham mais instituições de atendimento, não só de longa permanência, mas políticas públicas que deem suporte necessário nas áreas social e da saúde”, concluiu.

Em 2050 serão 73 idosos para cada 100 crianças

De acordo com estimativas elaboradas e divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o número de idosos deverá aumentar. Por volta do ano de 2050, haverá, no Brasil, 73 idosos para cada 100 crianças. O estudo divulgou ainda que no ano de 2050 a população brasileira será de aproximadamente 215 milhões de habitantes.

Uma tendência mundial, que também serve para o Brasil, é o chamado “crescimento zero”. Segundo estimativas, em torno do ano de 2039, a população brasileira deverá estabilizar o seu crescimento. Isso significa que a população do país irá parar de crescer, ocasionando uma queda na população absoluta.

Outro fator que permite o envelhecimento da população é o aumento na expectativa de vida dos brasileiros, hoje de 72,78 anos. Essa média não se irá estabilizar, pois no ano de 2050 a expectativa de vida subirá para 81,29 anos, igualando a de países de elevado IDH, como Islândia (81,80 anos) e Japão (82,60).

*Reportagem publicada no Jornal O Celeiro, Edição 1442 de 18 de agosto de 2016.

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