Uma epidemia de sífilis?

Registros da doença aumentam em Campos Novos e profissionais da Vigilância Epidemiológica Municipal falam sobre os casos.

Julio Ebrain Neris e Dinara Miguel Padilha

A Vigilância Epidemiológica Municipal registrou de janeiro até segunda-feira, 05 de março, 25 casos de sífilis em Campos Novos. Conforme Dinara Miguel Padilha, enfermeira da Vigilância Epidemiológica, são dois casos em gestantes de 15 e 19 anos de idade e 23 casos de sífilis não especificadas.

Em 2017 foram registrados 72 casos da doença, sendo 2 casos de sífilis congênita, 14 casos em gestantes com idade entre 16 a 30 anos e não especificadas 56 casos na faixa etária entre 15 a 72 anos.
Para o médico da Vigilância Epidemiológica, Julio Ebrain Neris, pelos números já registrados nos primeiros meses do ano, já se pode considerar uma epidemia de sífilis no município. O profissional considera, porém, que as novas notificações deste ano não significam que a contaminação tenha ocorrido em 2018.

“Pelo número objetivo de casos registrados neste ano em relação ao ano passado, pode se considerar uma epidemia. Mas isso não quer dizer que os novos casos registrados em 2018, todos tenham tido a infecção recentemente. Pode significar simplesmente o fato dos pacientes terem adquirido a doença no passado e só agora terem feito o exame e chegado a um diagnóstico. Pelos números objetivos levando em consideração 2017 para 2018, há sim um número expressivo que deixam a gente com um pouco de receio, mas não há como afirmar que as infecções tenham sido contraídas neste ano”.

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível, altamente contagiosa e que, quando não tratada, pode evoluir para forma sistêmica e grave. O uso de preservativo em todas as relações sexuais é o método mais eficaz de prevenção, protegendo o indivíduo de outras 11 Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como o HIV e as hepatites B e C. “Na maioria dos casos a doença é assintomática, ou seja, tem poucos sintomas. A maioria notificamos e diagnosticamos pelo teste rápido e se encaminha para tratamento. Junto com essa doença da sífilis outras doenças sexualmente transmissíveis também são transmitidas, como HIV, hepatite B e C, é o que também nos preocupa”, reforça Dr. Julio.

O médico alerta também que para as gestantes, o cuidado é redobrado, considerando que a infecção pode ser transmitida para o bebê (sífilis congênita) e provocar má formação do feto e aborto. “Em gestante a situação é delicada principalmente porque se não for bem tratada, a doença pode ser transmitida para o bebê e a criança que já nasce com a doença, as consequências da sífilis congênita podem ser bem graves. Então toda a gestante que faz o pré-natal a gente pede o teste rápido para a sífilis pelo menos três vezes no primeiro, no segundo e no terceiro trimestre, para que se evite a contaminação do bebê”.

O teste para sífilis deve ser realizado no primeiro trimestre da gestação, ser repetido no terceiro trimestre e no momento da internação para o parto. Os parceiros sexuais das gestantes também devem ser testados durante o pré-natal, complementa Julio Ebrain Neris. Além dos riscos do abortamento e morte fetal, a criança pode apresentar lesões neurológicas, cardíacas, oftálmicas e articulares irreversíveis.

O Teste Rápido para sífilis é oferecido pelo SUS e pode ser solicitado por qualquer pessoa diretamente na unidade de saúde. O processo é rápido, seguro e sigiloso, reforça Dinara Miguel Padilha. “Hoje existe esta oportunidade do diagnóstico precoce. Os testes rápidos são realizados em todos os postos de saúde, cada pessoa pode realizar no posto do seu bairro e assim ampliar a testagem rápida, tanto de sífilis, quando de HIV e Hepatites. É um teste seguro, sigiloso e em 30 minutos a pessoa tem o resultado de quatro exames”.

A sífilis pode afetar todas as faixas etárias e a pessoa pode desenvolver a doença anos depois de ter se infectado, por isso, em muitos casos, do registro de sífilis em idoso. Dr. Julio esclareceu ainda que uma vez que o teste rápido dê positivo, é necessário sempre que o paciente também opte por um segundo exame.

“O teste treponêmico que é o teste rápido, uma vez positivo vai ser positivo para o resto da vida. É o que chamamos de cicatriz sorológica. Então você fez hoje, tratou e faz novamente o teste rápido daqui um ano, vai dar positivo de novo, mas isso não quer dizer que a pessoa esteja novamente contaminada. Por isso da importância de fazer sempre o segundo exame, que é o VDRL (exame de sangue para diagnosticar sífilis)”.

Como a maioria dos casos são transmitidos via sexual, a principal forma de prevenção é o uso de camisinha, orientou ainda o médico. “A prevenção é o uso de camisinha, pois a principal forma de transmissão da sífilis é sexual na grande maioria dos casos. Outra forma seria pela transfusão sanguínea, mas hoje em dia esse risco é quase zero em função das novas normas que estão sendo utilizadas. Outra forma seria por meio de acidentes de material perfurocortante, mas o profissional de saúde já tem todo o protocolo a seguir e evitar e ainda existe a transmissão vertical, de mãe para filho, durante a gestão ou na hora do parto”.

Santa Catarina está vivendo uma epidemia de sífilis nos últimos anos, assim como o Brasil e diversos países do mundo. O crescimento é expressivo, considerando os registros dos últimos cinco anos (2012-2016) divulgados pela Dive. Os casos de sífilis adquirida aumentaram 320% neste período, passando de 2.012 para 8.427. Entre as gestantes, os novos casos notificados saltaram de 309 para 1.443, o que representa um incremento de 360%.

*Reportagem publicada no jornal “O Celeiro”, edição 1519 de 08 de março de 2018.

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