Episódio sangrento e cruel da história de Santa Catarina, não teve nem vencedores e nem vencidos
O assunto é sempre comum nas questões de vestibular, mas bem pouco citado nas escolas de Campos Novos. Poucos alunos do município conhecem o episódio cruel e sangrento que marcou a região sul do Brasil, principalmente os estados de Santa Catarina e Paraná que foram protagonistas desse conflito agrário que se tornou um dos mais violentos da história do Brasil, mais conhecido como Guerra do Contestado. Apesar de seu caráter violento, o conflito não pode ser ignorado e passar batido na sociedade, professores, pesquisadores e alunos contestam o motivo deste assunto ser um tabu nas escolas. A pauta deverá ser discutida em breve, para tornar o assunto, não algo de que se orgulhar, mas um fato que deve ser ensinado como parte importante da história do estado.
Era quase 1900 e o Brasil estava nos trilhos do progresso e o do desenvolvimento. Diante deste cenário foi idealizado o projeto de construção de uma estrada de ferro entre São Paulo e o Rio Grande do Sul. Os passos em rumo ao progresso acabaram eclodindo em uma guerra entre estados que marcou uma geração e até hoje causa lamento. O governo brasileiro delegou uma empresa americana para construir a da ferrovia, mas sem estabelecer limites e critérios, permitiu que a mesma agisse sem escrúpulo, desapropriando um número grande de famílias que moravam as proximidades da obra. Somado a isso, ao fim da construção, a empresa não mandou os trabalhadores de volta a suas cidades de origem, gerando um grade contingente humano e um problema social nas divisas entre os estados, que iniciaram uma guerra civil em que ambos ‘contestavam seu pedaço de chão’.

A professora e pesquisadora Rosa Maria Tesser, que está em Campos Novos trazendo a exposição “Claro Janssen: O fotógrafo do Contestado”, conta que aos poucos o conflito foi se tonando grandioso, ceifando cerca de 20 mil vidas, entre homens, mulheres e crianças. “Os trabalhadores deixados para trás uniram forças com as pessoas desalojadas de suas terras para começar o embate. Foi uma guerra cruel e sanguinária. De um lado a força pública do Paraná e de outro a força pública de Santa Catarina, cada um defendendo e lutando por sua parte. Foram muitas mortes”, comentou. O conflito começou em 1912 e durou quatro anos. Com a intervenção do presidente Wenceslau Braz foi assinado no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, o acordo que resultou no estabelecimento dos limites geográficos entre os dois estados. Apesar de todos os estragos, a guerra não trouxe “Nem vencedores e nem vencidos”.
O professor de história, Antônio Rosa, contesta o fato deste acontecimento ser tão ignorado no ensino das escolas no município, e comenta que enquanto educador tem tido uma atitude diferente e se preocupa em levar o assunto a seus alunos. “Há alguns dias eu trabalhei com eles o contraponto: Porque nós não temos a semana do contestado e temos a semana Farroupilha? Aqui em Campos Novos ninguém conhece esse assunto que precisa ser fomentado. Em sala de aula eles gostaram de conhecer a história do contestado, os alunos precisam conhecer este assunto que faz parte da nossa história”, contesta o professor, que também é vereador em Campos Novos, e afirma ter projetos para levantar essa causa e dar mais destaque a esse acontecimento.
A estudante de direito Caroline Niebuhr, que trabalha no laboratório de informática da Biblioteca Pública, conta que tem acompanhado as visitas que os alunos fazem a exposição e tem observado que eles ficam surpresos ao saber os detalhes sobre a Guerra do Contestado e ela relembra que quando estava no ensino médio estudou muito pouco sobre esse tema. “Essa história tem sido desvalorizada e esquecida. Ao ver a professora Rosa Maria explicar os alunos ficam curiosos. Quando eu estava no Ensino Médio, estudei sobre muitas guerras, mas sobre o contestado foi bem pouco. Eu acho que é um fato importante para a história de Santa Catarina e deve ser valorizado”, opinou.
A professora Rosa Maria acredita que por ter sido um evento muito sangrento, a Guerra do Contestado talvez cause vergonha e por isso a reação seja ignorar o fato. Pelaela isso não deveria acontecer, pelo contrário, as pessoas deveriam procurar ver o que se pode aprender deste acontecimento que não pode ser apagado da memória e nem da história. “Essa guerra trouxe uma mácula ao estado de Santa Catarina. Mas apesar de o povo ter sofrido, ele ainda é altivo, ele não se dobrou. Não devemos nos concentrar tanto na parte sangrenta da história. Mas no cerne do conflito”, pondera. Maria também comentou que Campos Novos tem muita coisa que faz parte da Guerra do Contestado, e por isso tem planos futuros de trabalhar em parceria com o município apresentando o tema do contestado de maneira mais efetiva. “Gostei tanto de Campos Novos que pretendo ser parceira da fundação trazendo um projeto voltado adifundir a história do contestado”, conclui.
Sobre a Exposição
A exposição “Claro Janssen: O fotógrafo do Contestado”, que acontece no auditório da Biblioteca Municipal, iniciou no dia 19 e se estenderá até o dia 28, das 8h às 19h. A exposição organizada pela pesquisadora e professora Rosa Maria Tesser traz o maior acervo de fotografias que retratam diferentes momentos da Guerra do Contestado. Atuante e corajoso, sendo um dos únicos fotógrafos dessa guerra, Janssen, através de seu trabalho ganhou a admiração da professora que desde bem jovem se interessou pela história do Contestado.
Após muito empenho e trabalho, Maria hoje é detentora das fotos que foram tiradas pelo fotografo durante o conflito. Autora de varios livros e da exposição, a professora escolheu a dedo as 150 melhores fotos que contam um pouco sobre esse evento que marcou a história de Santa Catarina.
*Reportagem publicada no jornal “O Celeiro”, Edição 1548 de 27 de Setembro de 2018.