Decisão de criar um bichinho requer responsabilidade e recursos
Recentemente aconteceu em Campos Novos uma palestra sobre proteção e direitos dos animais e contou com a presença do ambientalista Halem Guerra Nery, que conversou com o jornal ‘O Celeiro’, e falou sobre a importância da consciência na hora de levar para casa um bichinho de estimação. Alguns acham os animais lindos e fofos e carregam para casa achando que eles são de brinquedo, mas quando eles começam a fazer suas necessidades o encanto acaba, e para solucionar o problema descartam os animais como se fossem objetos. Este é apenas um dos problemas. Em compensação, há aqueles que sabem da responsabilidade e oferecem amor e carinho a seus bichinhos como se fossem parte da família. Portanto, antes de levar um bichinho para casa é melhor entender o que esta envolvido nesta decisão. Animais são seres vivos que merecem respeito e cuidado, por isso, após muitas lutas pela causa animal hoje existem leis que os amparam e protegem contra todo tipo de maldade.
Halem trabalha como ativista ambiental e defensor dos direitos animais há muitos anos e neste tempo presenciou muitas situações lamentáveis acontecerem com os animais, principalmente cães e gatos que são os animais domésticos mais comuns. Halem diz que é comum as pessoas maltratarem e abandonarem os animais. Por isso na hora de decidir adotar um bichinho leve em consideração os seguintes fatores: Eu tenho espaço para ele? As pessoas que moram com você estão de acordo? Eles vivem de 10 a 15 anos, você está disposto a cuidar dele durante todo esse tempo? Você poderá pagar as despesas com alimentação e cuidados com veterinário durante toda a vida dele? Se você se mudar irá levar ele ou o abandonará? Esses questionamentos devem ser feitos antes e não depois de adotar um animal.
Por mais que seja fácil para o ser humano deixa-lo para trás, para o animal é bem difícil ter de se afastar de seu dono. Há casos em que alguns animais já morreram devido a saudade sentida por seu anterior dono. “Alguns tem o impulso em levar um animal para casa sem pensar bem na responsabilidade e no comprometimento que isso pode significar. Em muitos casos, alguns acabam abandonando o animal. Outro grande problema são os maus-tratos, as pessoas não tem sensibilidades com outras formas de vida. Maus tratos nem sempre envolve apenas bater no animal, mas também deixar de alimenta-lo adequadamente, deixar de cuidar quando doente, abandonar nas ruas”, lamenta Halem.
Além dos cães e gatos, os coelhos também são apontados por Halem como um dos bichos que também sofrem abandono, principalmente na época da páscoa. Devido ser o símbolo da festividade que acontece no mês de abril, neste período é comum dar coelhinhos de presente. As crianças são as que mais pedem o bichinho. Sua beleza e fofura atraem, e as crianças talvez acreditem que eles serão como uma pelúcia. Mas na verdade não são. Depois que passa o encantamento da páscoa, os coelhinhos começam a dar trabalho e perdem sua utilidade. O que fazer com eles? Abandonar parece ser o caminho mais fácil.
Na tentativa de impedir o abandono e os maus tratos contra animais, Halem acredita que o investimento em educação é um dos caminhos mais eficazes na tentativa de sensibilizar as pessoas sobre a problemática. “No decorrer desse anos lutando por isso, nós vimos que buscar as pessoas que maltratam animais era uma ação em vão na tentativa de corrigir o problema, nós decidimos que iriamos investir em educação, mudança de cultura nas escolas, quebrar o vínculo entre as crianças e os adultos que não tem mais sensibilidade com os animais e já estão lesionados pela maldade. Trabalhamos muito a questão da educação”, afirmou.
A responsabilidade e cuidado com os animais domésticos deve envolver todos os setores, o que inclui o Poder Público Executivo e Legislativo que tem as prerrogativas para legislar e atuar com objetivo de atenuar o problema da população de animais nas ruas. A desatenção das autoridades é um problema que deve ser debatido e cobrado, pois cuidar dos animais de rua é uma questão de saúde pública. Um animal não cuidado pela rua é um potencial transmissor de doenças. Apoiar esta causa irá refletir na saúde pública.
O Papel das ONG’s
Algumas pessoas que presenciam maus tratos com os bichos costumam logo acionar ongs defensoras de animais. Mas as ongs não são órgãos competentes para autuar pessoas que cometem este tipo de crime. A Polícia Militar é órgão responsável para atender este tipo de denúncia. Então, qual o papel das Ongs? A responsabilidades dessas organizações não governamentais é promover a educação para a guarda responsável e o apoio nas campanhas de doação para colocar os animais junto a famílias responsáveis e o apoio as campanhas de castração eventuais. Elas foram criadas para serem elementos de apoio ao Poder Público e a classe veterinária nas ações de controle populacional dos animais, principalmente os de rua. Elas não podem ser vistas pela sociedade como um depósito de animais.
Em Campos Novos a Aprovida atua de forma ativa na defesa de animais e tem encabeçado campanhas para promover castrações de animais de rua, mas seu trabalho precisa ser abraçado por todos. “Minimizar os problemas não é para um grupo de heríicos voluntários, essa é uma ação que tem que ter uma complementação multidisciplinar do poder público executivo, legislativo, do Ministério Público e da iniciativa privada, só assim é possível ter bons resultados”, concluiu Halem. Em sua visita a Campos Novos, o ativista elogiou o trabalho da Aprovida e falou que Campos Novos tem uma condição positiva com relação ao número de animais de rua.
*Reportagem publicada no jornal “O Celeiro”, Edição 1581 de 06 de Junho de 2019.