Estiagem X Pandemia: O que mais tem prejudicado o agronegócio?

Situações fora do esperado surpreenderam produtores rurais que lutam para driblar a crise instalada.

O ano de 2020 começou com grandes e positivas expectativas para o setor do agronegócio, porém nem chegamos na metade do ano e a situação se mostrou adversa e cheia de surpresas negativas. A primeira delas foi a estiagem fora do normal que prejudicou muitas lavouras e mais recente a pandemia do Coronavírus que paralisou o mundo. Com segmentos não essenciais fechados, a agropecuária se apresenta como setor de grande importância e por isso não pode parar mesmo com medidas estabelecidas sobre isolamento. Conforme a ultima edição do jornal o Celeiro a situação da pandemia causa insegurança e instabilidade, mas ate o momento não afetou diretamente as propriedades, mas certamente haverá consequências na cadeia produtiva futuramente. A estiagem também tem sido tema constante nas nossas editorias de agronegócio pelo fato de ter causado prejuízos significativos nas propriedades. Ainda é muito cedo para quantificar as perdas sentidas pelos pequenos, médios e grandes produtores, já que são problemas que persistem, no entanto alguns já se posicionam sobre essa fase e declaram sobre o que tem sido o grande vilão deste momento.

O produtor rural Jair Noriler pontuou algumas questões referentes a pandemia e impactos neste setor, ressaltando que este ano está sendo tão dificil quanto foi o ano anterior. “A Pandemia sem dúvida nos prejudicou, pois a China, que é nosso principal mercado, reduziu suas compras de soja, milho e carnes no pico das infecções. Mas com a redução da enfermidade a imprensa especializada já nos dá boas notícias de que a China está aumentando novamente suas compras. A pandemia também afetou o dólar que já passou de R$ 5,00 e isso influenciou nos preços das comodities já que nossas vendas são em dólar. Então durante o pico da doença na China e na Europa vendemos menos, mas a receita foi melhor. Por outro lado, os preços dos insumos dispararam pois muitos são importados e cotados também em dólar”, iniciou.

Quanto ao cenário da pandemia, Jair esclareceu sua opinião de que é possível continuar o trabalho nas propriedades. Mas no que diz respeito a estiagem o produtor é mais enfático. “A estiagem é a que está impactando mais negativamente o setor. A colheita ainda não acabou, mas com certeza quando fecharem as contas vai ser assustador. Só para ter uma ideia, na nossa propriedade o milho para a silagem que no ano passado produziu 44 toneladas/hectare, neste ano, mesmo usando uma tecnologia melhor, produziu 33 toneladas/ hectare. Portanto, 25% de quebra, isso que na nossa fazenda choveu mais que em outras regiões. A quebra de safra influencia diretamente na renda do produtor, pois os custos de produção foram altos demais nesta safra. Na pecuária continua prejudicando muito, falta água os pastos escasseiam e quem não tiver feno ou silagem vai ver seu gado perder peso. Além da perda de peso, o potencial reprodutivo das matrizes é afetado, a produção de leite caiu enormemente e é um dos setores com mais prejuízos”, desabafou.

Quem concorda com Jair é o produtor Francisco Chioccheta que contou que mesmo com a pandemia conseguiu realizar o trabalho na propriedade, porém, quanto a estiagem esta foi avassaladora para muitas culturas prejudicando muitos produtores. “Continuamos trabalhando normalmente porque tínhamos milho, soja e feijão pronto para colher e não podemos esperar. Tomamos as providências necessárias para cuidar dos funcionários, eles usaram os equipamentos e orientamos sobre os cuidados. Se for comparar a seca foi mais prejudicial porque passamos o mês de fevereiro com praticamente uma chuva quando caiu 100 milímetros de chuva. Agora em março também caiu uma chuva de 28 milímetros. Prejudicou muito as culturas como soja e feijão. A seca nos tirou muito dinheiro”, reclamou.

Enquanto o comércio vê a pandemia como seu grande vilão, o setor agropecuário encara como algoz a estiagem que assola a região desde o inicio do ano. As perdas já chegaram a milhões. Dias ensolarados, quentes, secos e sem chuva causaram um estrago sem tamanho as lavouras. A seca também comprometeu o abastecimento de água no município, fato que tem mobilizado o Poder Público a solicitar o racionamento nas casas. É uma situação grave e preocupante. Campos Novos e demais municípios da região declaram situação de emergência e os prefeitos envolvidos ainda se reúnem para conversar sobre ações que ajudem a classe dos produtores. O secretário de agricultura, João Batista de Almeida, afirmou que a estiagem “com certeza é o que mais tem afetado o agronegócio local e dos demais municípios. “Outros setores serão mais afetados pela pandemia, como o comercio. Mas o agronegócio do município tem sido mais prejudicado pela estiagem”, declarou.

Em relatório divulgado nesta terça-feira (31) pela Epagri notou-se perdas significativas nas propriedades. Por exemplo, no milho a produção, somando safra e safrinha, que foi de 2,89 milhão de toneladas no ano passado, tem estimava de colheita de 2,6 milhões de toneladas, numa queda de 9,88%, devido a estiagem, que reduziu a produtividade em 2,27%, e a uma redução de área de 346 para 338 mil toneladas. A soja tem queda de 0,95, de 2,35 milhões de toneladas para 2,33 milhões de toneladas. A safra de arroz será a única com produção maior, passando de 1,10 milhão de toneladas para 1,14 milhão de toneladas. A previsão climática para este trimestre segue com chuvas abaixo e temperatura acima da normalidade no estado.

*Reportagem publicada no jornal ‘O Celeiro’, Edição 1620 de 02 de abril de 2020.

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