Cresce participação de mulheres nas cooperativas catarinenses

Dados da Ocesc apontam que o número de mulheres cresceu 16%. Como está o cenário nas cooperativas do agronegócio?

Santa Catarina é referência nacional do cooperativismo, isto se dá porque o estado tem a maior adesão ao cooperativismo e faz isso com excelência. Próximo do Dia Internacional do Cooperativismo, que é datado no dia 4 de julho, a Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc) divulgou os dados do setor referentes a 2019. Entre os números o que chamou a atenção foi o aumento da participação de mulheres e jovens no quadro social de cooperativas no estado, com ênfase na participação feminina que representam 40% dos associados, um total de 1.088.957 cooperadas, um crescimento de 16%. Mais do que números e dados estatísticos este resultado e avanço representa a força e a capacidade da mulher. Porém, ainda há espaço para melhora, pois ainda existem barreiras que dificultam o protagonismo das mulheres nas grandes empresas e cooperativas. A especialidade de Campos Novos e região é o agronegócio e este é um setor ainda dominado por homens. Dados da Ocesc de 2018 mostram que nas Cooperativas Agropecuárias de Santa Catarina, dos 71.480 cooperados apenas 7.360 são mulheres, representando apenas 10,29% dos cooperados do setor Agropecuário Catarinense.

Celina Manfroi Cassiano Barros, advogada, defensora do Direito das Mulheres e socia-fundadora da Cooperativa Agropecuária do Celeiro Catarinense fala com propriedade sobre o assunto e analisa a situação das mulheres neste cenário. “As mulheres têm construído caminhos em direção à maior participação no cenário produtivo. Só para ilustrar, enquanto em 1995 o Brasil tinha 22,9% dos domicílios chefiados por mulheres, em 2015 esse número saltou para 40%. Mas ainda há muitas barreiras a serem superadas, dentro das famílias e da sociedade, dentro das empresas e cooperativas. Isso porque apesar dos avanços, as mulheres ainda têm remuneração menor que os homens, sofrem discriminação em diversas áreas, são maioria dentre as vítimas de violência doméstica e são poucas as mulheres em cargos de liderança nos setores público e privado”, afirmou Celina, que questiona: A porcentagem de 40% é significativa, mas para mim as dúvidas que ficam são: Quantas destas associadas estão em cargos de chefia dentro das Cooperativas? Será que as Cooperativas estão, de fato, fomentando a liderança das mulheres?

O cooperativismo tem como uma de suas bases as relações de intercooperação e integração entre seus membros, em que o trabalho é feito em conjunto. O modelo de gestão das cooperativas se aplica bem ao movimento de união entre as mulheres, que tem se tornado uma necessidade na atualidade. “O significado do Cooperativismo, em sua essência, fomenta a união e o crescimento conjunto, e entre as mulheres não seria diferente. A ideia de gestão participativa e democrática que permeia o fazer Cooperativista tem muita similaridade com o anseio feminino em relação à sociedade, mas para que este fazer cooperativista implique em maior união, nós mulheres temos que praticar a “sororidade”, ou seja, deixarmos de lado o conceito machista que há uma rivalidade intrínseca às mulheres e praticarmos a empatia, a compreensão, o companheirismo, a fim de alcançarmos objetivos comuns. A prática da sororidade dentro do contexto cooperativismo implicará no fortalecimento deste modelo de associação de pessoas”, concorda Celina.

Empreendedorismo e empoderamento feminino

Passos já foram dados, as mulheres já saíram do anonimato e seguem na tentativa de alcançar igualdade. O mercado de trabalho tem sido um dos setores mais difíceis e preconceituosos para elas, mas não por falta de preparação, mas por uma cultura machista ainda impregnada na sociedade. A insegurança, falta de confiança e jornada dupla ainda são ‘justificativas’ para desqualificar as mulheres envolvidas nos negócios. O empreendedorismo feminino tem crescido e mostrado que sua atuação lhes permite assumir cargos de liderança. Celina reforça a ideia do empoderamento contrapondo a realidade atual. “Quando falamos em empoderamento feminino precisamos refletir sobre as estruturas sociais que vivenciamos, nas quais apesar de 22,8% das mulheres ocupadas no país terem Ensino Superior, em comparação com 18,4% dos homens ocupados, o rendimento das mulheres (de 25 a 49 anos) equivale a 79,5% dos homens (dados estes do IBGE – 2018). Em outras palavras, apesar da mulher ter maior nível de escolaridade, de maneira geral, ela ganha 20,5% menos que os homens. Ainda, mais de 90% das mulheres declararam realizar atividades domésticas, enquanto esta proporção em relação aos homens é de 53% (IPEA – 2015).

A advogada acredita que por meio da educação é possível ajudar muitas mulheres a se empoderar. “Na minha opinião, este ato de ‘tomar poder sobre si’ está baseado principalmente na educação. Ensinar as mulheres que elas são capazes de perpetrar mudanças na sociedade, alcançando espaços iguais aos homens. Por fim, para alcançar a efetiva igualdade são necessárias Políticas Públicas específicas, representadas pela educação universal e gratuita, com atenção especial à educação infantil, a fim de que as mães consigam trabalhar, oportunidades de capacitação e atualização profissional, incentivo à inserção produtiva, fortalecimento da prevenção e atendimento de casos de violência doméstica, atenção à saúde, humanização do parto, estímulo ao empreendedorismo, dentre tantas outras”, opinou.

*Reportagem publicada no jornal ‘O Celeiro’, Edição 1633 de 02 de Julho de 2020.

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