Abordagem precoce: Tratamento pode diminuir óbitos por Covid-19

Médico diz que tratamento tardio para a doença é a principal causa de mortes.

O surto do novo Coronavírus continua assustando a população e a doença gera muitas dúvidas, não apenas na população em geral, mas também na classe médica em que boa parte ainda não compreendeu todas as nuances do manejo da doença para lidar com os pacientes positivados. Após meses de enfrentamento, hoje a Covid-19 tem sido estudada com mais compreensão e muitos médicos estão empenhados em entendê-la para oferecer o melhor tratamento aos pacientes. Delegado às esferas estaduais e municipais para estabelecer as estratégias de combate e prevenção ao vírus, a região da Amplasc tem solicitado o auxílio de vários médicos para atuar neste sentido. O médico, Luciano Dias Azevedo, que participou de reunião com prefeitos que compõe a região, conversou com a redação do jornal O Celeiro e falou sobre a importância da abordagem inicial, assim como do tratamento medicamentoso, como forma de impedir o avanço da doença e de evitar óbitos.

Dr. Luciano está desde o início da pandemia voltado à pesquisa e observação da doença e desde então tem mobilizado um trabalho de envolvimento entre médicos e gestores para discutir e propor idéias de tratamentos mais eficazes, uma vez que a Covid-19 ainda não tem tratamento específico. O grupo composto pelo médico conta com mais de 4.000 profissionais que trocam informações e conhecimentos sobre o comportamento da doença. “Não existe o melhor médico ou o que sabe tudo, existe uma união com troca de conhecimentos e experiências clínicas com o objetivo de ajudar os pacientes. Em SC já começamos três grupos de médicos conectados a outros grupos em todos os Estados no país. É fundamental nos unirmos para vencer a guerra contra esta doença”, destacou Luciano.

Parte deste conhecimento foi dividido conosco para que as pessoas entendam como deve ser feito o tratamento, a utilização de medicamentos e de que forma a doença atua no ser humano em suas fases. Defensor de uma abordagem precoce, Dr. Luciano criticou a orientação inicial da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que o tratamento deveria iniciar apenas após os sintomas estarem agravados. Por se tratar de um vírus que pode afetar o sistema neurológico de forma a silenciá-lo, um tratamento tardio é perigoso. “Estamos sugerindo que a procura médica seja imediata aos sintomas e que haja o monitoramento dos mesmos. Caso o doente piore, a partir do segundo ou terceiro dia o tratamento medicamentoso deve ser iniciado. Percebamos os riscos desse vírus para os mecanismos de “alarme” presentes em nosso sistema nervoso, pois ele invade uma área do cérebro responsável por avisar sobre a queda do oxigênio e atuar como nosso mecanismo de defesa. Grande parte dos doentes perdem oxigênio e não percebem porque o corpo não está os avisando, ou seja, a pessoa não é alarmada da queda de oxigênio inicialmente, porém quando passa a sentir a falta de ar é porque o pulmão já está muito comprometido e o oxigênio está em nível tão baixo que a pessoa começa a sentir tonturas aos mínimos esforços, passa a sentir-se muito mal”, explica.

Outra característica da Covid-19 é a rapidez em que ela avança nos vulneráveis a ela. O vírus permanece no organismo cerca de dez dias, porém é tempo suficiente para agravar o quadro clínico do paciente, conforma diz o médico. “No início estávamos muito assustados porque os sintomas nos doentes susceptíveis ao agravamento avançavam com muita rapidez. A pessoa chegava com um desconforto, uma tosse seca e ao fazer o exame já estava com 40% do pulmão comprometido. Com a tomografia víamos que ela deveria estar com a frequência respiratória alta, com sinais de maior gravidade, mas ela não apresentava nada disso. Após essa observação vimos que os sintomáticos deveriam logo serem acolhidos pra receberem os cuidados e orientações corretas”, declarou comentando que com as devidas orientações os médicos podem atuar para que a doença não chegue em sua terceira fase, que é a mais grave. Afinal quais são as fases da Covid -19?

Fazes da Covid-19

1 Fase – Fase viral: Quando o vírus infecta o corpo da pessoa. “Na primeira fase o vírus vai tomando as células e se multiplicando. Neste momento temos que dar todas as ferramentas para que o corpo fortaleça sua imunidade e combata o vírus, diminuindo a possibilidade de multiplicação desse patógeno. Nesta fase oferecemos aos sintomáticos medicamentos que fortaleçam a imunidade e que diminuam a velocidade em que o vírus se multiplica no organismo atrapalhando sua replicação dentro da célula, no intuito de oferecer ao doente maior condição de vencer a doença e também preparar o corpo para uma segunda fase mais suave para os que continuarão a evoluir na doença. Nesta fase são usados medicamentos como a Ivermectina, a Hidroxicloroquina, Azitromicina, o Zinco dentre outras possibilidades, porém, na primeira fase, estão contra indicados os corticoides e anti-inflamatórios que diminuam a defesa do organismo contra o ataque do vírus.

2 Fase – Fase Inflamatória: O vírus é o gatilho para a doença inflamatória autoimune. É o início da inflamação em que o corpo apresenta uma resposta exacerbada contra si mesmo, daí podem surgir a hipercoagulação sanguínea, as doenças neurológicas, gastrointestinais, pulmonares e até o estado de hiperinflamação devido à temida “tempestade de citocinas”, tudo decorrente da inflamação desenfreada. Quanto maior a carga viral na primeira fase, maior tende a ser a reação inflamatória pós viral. Por isso é importante tratar a primeira fase porque se a doença evoluir pra fase de autoimunidade, a inflamação tenderá a ser mais branda e, portanto, mais fácil de tratar. Na segunda fase os medicamentos utilizados serão medicamentos com alvo de combater a inflamação, hipercoagulabilidade e autoimunidade. É na segunda fase que a doença Covid-19 se configura de fato.

3 Fase – Fase Hiper Inflamatória: “Fase gravíssima em que o paciente está na UTI e muito provavelmente precisará ser intubado. Nesta fase é muito difícil tratar porque a hiperinflamação pela autoimunidade leva ao acometimento de todo organismo.

Todo paciente evolui para a segunda fase?

‘Lembro que 85% dos infectados pelo vírus sequer perceberão que o vírus passou pelos seus corpos, não precisarão de tratamento algum. Porém o que temos visto tratando os sintomáticos na primeira fase é que um menor número de pessoas se agravam e quem vai para a segunda fase tende a chegar com sintomas mais brandos, mais fáceis de tratar. Não sabemos qual o marcador genético estabelece quem vai evoluir ou não. Se utilizarmos o tratamento adequado para a primeira fase e o próprio para a segunda fase de formas corretas, as chances para que os pacientes cheguem na terceira fase diminuem substancialmente. Mesmo os pacientes que estão no grupo de risco podem evitar chegar ao estado gravíssimo se forem tratados corretamente”, respondeu o médico.

Automedicação

Listas de medicamentos contra o vírus já circulam nas redes socias e pessoas, por medo de contrair a doença, autonomamente já tem feito uso dos medicamentos. Esta ação não é recomendada, haja vista que o tratamento adequado para cada fase da doença deve partir do médico. “Por não haver um comando central para conduzir esta doença, muitos profissionais de saúde ainda não sabem fazer o manejo da doença e não passam segurança para a população. Boa parte dos meios de comunicação têm sido ineficientes e não levam informações corretas, muitas vezes causam pânico desnecessário nas pessoas que querem se proteger e, por isso, começam a buscar remédios para se automedicar. A automedicação não é recomendada, este é um trabalho do médico. A Covid-19 tem tratamento e já é possível tratar em casa a maioria das pessoas, conclui Dr. Luciano.

*Reportagem publicada no jornal ‘O Celeiro’, Edição 1638 de 06 de Agosto de 2020.

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