Tô nem aí

“Pimenta no olho dos outros é refresco no nosso”. Alguém conhece essa expressão popular? Em outras palavras: é fácil ser indiferente quando o problema não é meu. E quando o problema do outro é de caráter emocional a situação ainda é pior, pois o sofrimento alheio passa a ser motivo de piada e todo mundo se põe na cadeira de juiz para julgar os sentimentos alheios. Até quando a falta de empatia vai endurecer nosso olhar e coração diante das feridas de outros?

A saúde mental em anos recentes vem ganhado espaço e vai continuar em pauta devido a sua pertinência. Por não ser encarada com seriedade, a problemática carregava um enorme tabu, mas felizmente as coisas estão mudando. O tema já é falado e discutido com mais abertura e sem tantos preconceitos. Já não se tacham mais como loucos quem precisa de tratamento psicológico. Porem, a evolução ainda não atingiu os patamares desejados. Ainda há uma relutância em admitir e expor o problema devido a vergonha de parecer vulnerável, fraco e infeliz, características abomináveis hoje em dia e que ninguém quer ostentar, afinal a moda prega a felicidade.

As redes socias são o grande portfolio da boa e bem sucedida vida. No espaço virtual você é forte, bonito, sorridente, rico e feliz 24 horas por dia. Nas redes ninguém esboça medo, insegurança, dúvidas, e ninguém chora. Quantas vezes você já viu alguém postar uma foto chorando? São raras às vezes. A questão aqui não é que seja preciso apresentar o lado ruim da vida, a questão é que há quem acredite que a vida é sempre aquele mar de rosas.
Almeja-se esta vida perfeita que muitos sustentam. E esconde-se as dores com medo do julgamento e olhar crítico do outro. Paradoxalmente ninguém quer ser igual a ninguém, mas ninguém quer ser diferente dos outros.

A humanidade está vivendo um período conturbado que aflorou os medos e incertezas que já existiam muito antes de qualquer pandemia acontecer. Alguns carregam um peso enorme nas costas e por medo do julgamento preferem dizer: ‘Estou bem!’, mas não está. As pessoas não dizem abertamente: ‘Não tô nem ai’, mas dizem por ações e por meio de frases impensadas que não se importam com sua dor, porque afinal elas não a sentem não é mesmo?

A matéria de capa desta semana falou sobre saúde metal e inteligência emocional como forma de lidar com as adversidades da vida. Mas tanto quanto a inteligência emocional, a empatia e a solidariedade com o próximo precisam ser aprendidas e exercidas entre a humanidade.

Por: Priscila Nascimento, Jornalista

*Editorial publicado no jornal ‘O Celeiro’, Edição 1637 de 30 de julho de 2020.

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