Tecnologia e comunicação no campo em meio à pandemia

O processo de informatização no campo acelerou neste período de isolamento para que a comunicação e os negócios fossem mantidos.

Ao ler este texto você terá acesso a reportagem de capa da edição da revista, ‘Celeiro do Agronegócio’, um texto que leva um pouco da expressão tecnologia, reinvenção e superação. Estas foram algumas das palavras que marcaram 2020, um ano inesquecível e cheio de dificuldades devido a explosão de uma pandemia que há anos o mundo não presenciava. Mas as pessoas e os negócios se reinventaram e estão lidando bem com as dificuldades apresentadas. Para evitar o contágio da Covid-19, a medida de isolamento social foi praticada em quase todos os países, prejudicando a economia mundial de forma absurda. Neste ínterim, a tecnologia e a informatização foi o portal para a comunicação e interação entre familiares, amigos e para relações de negócios. Os encontros e reuniões pessoais passaram a ser virtuais e em na reta final de 2020 a população mundial já se acostumou a interagir pela internet. O processo de informatização já era uma previsão, mas a pandemia acelerou este processo e hoje a população tem se tornado cada vez mais dependente das ferramentas tecnológicas e podemos concluir que imergimos na era digital.

Mas o que tudo isso tem a ver com o agronegócio? Tudo. Atualmente as ferramentas digitais disponíveis ajudaram a resolver os negócios e a promover a comunicação no campo em tempos de pandemia. Entre o plantar, o colher e a chegada até o consumidor final existem fases, entre elas a comunicação e a informatização, que são essenciais neste processo. Antes de adentrar este cenário atual vale fazer uma retrospectiva de como a tecnologia vem sendo empregada no meio rural auxiliando no desenvolvimento e crescimento do agronegócio. O trabalho iniciado e construído por mãos humanas se viu aos poucos sendo tomado por máquinas e tecnologias empregadas para acelerar a produtividade e renda do produtor. O progresso no campo conseguido através de novos implementos, novos manejos inovou e elevou o agronegócio no Brasil e no mundo. A modernidade promovida pelas tecnologias empregadas que permitiram que o agricultor deixasse de ser colono e se tornasse um grande empresário e as propriedades deixaram de ser lavouras familiares para tornarem-se empresas firmadas.

Hoje a tecnologia vai além e passa a ser fundamental para a interação e relações virtuais de negociações e comunicação entre os produtores. Recentemente a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) realizou uma pesquisa para avaliar o cenário da agricultura no meio digital no Brasil. O uso de ferramentas digitais para comercialização, soluções digitais, infraestrutura de conectividade e falta de conhecimento sobre as tecnologias disponíveis foram alguns tópicos levantadas com cerca de 750 pessoas que participaram da pesquisa, entre produtores rurais, empresas e prestadores de serviço sobre tendências, desafios e oportunidades para a agricultura digital no Brasil. O trabalho foi uma parceria entre a Embrapa, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e revelou que 84% dos agricultores brasileiros já utilizam ao menos uma tecnologia digital como ferramenta de apoio na produção agrícola. O resultado apontou que as facilidades proporcionadas pela internet permitem que o produtor tenha acesso a novas tecnologias.

A Embrapa divulgou em seu site algumas informações sobre os resultados da pesquisa. “Mais de 70% dos produtores rurais que responderam à pesquisa disseram que acessam a internet para interesses gerais sobre agricultura. Já as redes sociais, como o Facebook, e os serviços de mensagem, como o WhatsApp, foram apontados por 57,5% deles como meios utilizados para obter ou divulgar informações relacionadas à propriedade, comprar insumos ou vender sua produção. Cerca de 40% dos produtores disseram que vêm usando essas novas tecnologias como canal para a compra e venda de insumos e da produção e, ainda, em torno de um terço deles utiliza soluções digitais com o objetivo de mapear a lavoura e a vegetação e para a previsão de riscos climáticos. A pesquisa mostra um retrato atual de como esses produtores rurais estão utilizando a internet, aplicativos de celular, drones, entre outras tecnologias, e também um panorama das suas expectativas e dificuldade.

A empresa também participou no último mês de um seminário, realizado virtualmente, com representantes do setor agrícola e do setor de comunicação e tecnologia para debater e levantar o avanço nesta área. Silvia Massruhá, pesquisadora da Embrapa destacou diversos recursos tecnológicos já disponíveis no Brasil, que atendem tanto a produtores rurais de grande porte como agricultores familiares. Algumas ferramentas apresentadas interconectam produtores rurais, profissionais do setor e entidades governamentais, melhorando o fluxo de informação. Silvia lembrou que o uso cada vez mais disseminado de smartphones e de aplicativos segmentados para o setor tem transformado a aceitação da tecnologia por parte dos produtores. Outro fator é a mudança no perfil do agricultor, mais jovem, e do consumidor, mais exigente sobre a transparência no processo de produção. Já quanto à pandemia, ela acredita que serviu como um acelerador para a importância dada às Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). “O lado positivo da pandemia é que ela tem funcionado como um acelerador de futuro, por meio das tecnologias digitais. O que talvez levasse décadas para ser incorporado, especialmente em um setor conservador como o agro, os produtores de pequeno e médio porte têm procurado cada vez mais a tecnologia”, afirmou.

Campos Novos, com toda sua vocação agropecuária, hospeda importantes empresas cooperativistas que atuam de forma exemplar nesta pandemia, mantendo suas atividades em dia. Para tanto essas tecnologias se tornaram importantes para realização de reuniões, encontros, e orientação. Acompanhamos pela imprensa local o esforço empreendido e as ações virtuais promovida durante estes meses. O diretor-presidente da Cooperativa Agropecuária Camponovense (Coocam), Paco, confirmou o que a informatização proporcionou. “Houve muitas benesses. Com a pandemia aprendemos a utilizar a tecnologia disponível de comunicação, isso agilizou e os negócios não pararam. Hoje temos muitas reuniões por vídeo”.

Porém, Paco destaca que apesar de ter sido uma solução em meio a pandemia, este processo pode ter o lado ruim. “Perdemos o contato pessoal que é uma coisa importante. Eu gosto do contato com as pessoas para cumprimentá-las pessoalmente. O contato pessoal é importante nos negócios. Sinto muita falta disso. Este processo distante torna tudo muito frio. Não temos outra opção, para dar andamento nos negócios tivemos que utilizar as ferramentas tecnológicas disponíveis para nos comunicar e continuar o trabalho das empresas”.

Os produtores mais experientes também são alcançados pela tecnologia, e visto que ela se faz necessária eles têm aprendido a manuseá-las. “Sempre temos um jovem por perto para resolver problemas. E as dificuldades do celular hoje estão quase zeradas. Por exemplo, o celular se tornou um dispositivo de fácil manuseio. O grande sucesso do celular está no fato dele ter simplificado o simples. E a parte da comunicação é ainda mais fácil”. Mesmo com o fim da pandemia o uso das tecnologias de comunicação vai continuar sendo aproveitado, já que por meio deste recurso as distâncias foram diminuídas e a busca por soluções se tornou mais acessível. “As facilidades não costumam voltar para trás. Nós evoluímos e vamos ter cada vez mais tecnologias e mais informatização e vamos também precisar de gente para lidar com este cenário. Quem faz o agro precisa ter esse conhecimento”, completou Paco, que também recordou uma dificuldade que o agro na região ainda tem relacionado a tecnologia de comunicação nas máquinas modernas usados no campo. “As máquinas deixaram de ser manuais e passaram a ser comandadas por computador e ainda termos dificuldades para lidar com isso. A maioria dos proprietários treina seu próprio operador, mas uma qualificação voltada para isso não temos. Além do custo por falhas técnicas, temos problemas com o equipamento devido à falta de conhecimento”, desabafou.

Epagri e Cidasc

Dois órgãos estaduais importantíssimos para o agronegócio de Santa Catarina são A Empresa de Pesquisa e Extensão Agropecuária (Epagri) e a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola (Cidasc). A postos para promover a qualidade e excelência visando tornar o agronegócio do estado referência no mundo, ambas atuam para facilitar a vida do produtor. Para tanto as empresas criaram aplicativos que permitem o acesso a serviços online via smartphone. A Cidasc esta aceitando as Guias de Trânsito Animal – GTAs em formato digital (smartphone ou outro meio digital), dispensando a necessidade de impressão. A medida vale para trânsito de animais dentro e fora do estado e para todas as finalidades, obedecendo as orientações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Da mesma forma a Epagri desenvolveu em parceria com a Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca o aplicativo InfoAgro que reúne informações estratégicas da agricultura catarinense.

Novos e modernos recursos facilitam e agilizam a vida do produtor rural permitindo a otimização do tempo e o avanço do setor que foi o carro chefe do Brasil nesta pandemia.

Dificuldades sempre vão existir, mas a tecnologia sempre vem em auxílio do homem do campo permitindo que ele se reinvente, evolua e se supere a cada ano.

Vida longa ao agronegócio.

*Reportagem, publicada no jornal ‘O Celeiro’, Edição 1657 de 17 de dezembro de 2020.

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