Quem conta a história: Vera Durli

Amor pela causa motivou Vera Durli a não desistir de trazer a AMA para Campos Novos

Compromisso, esforço, dedicação e muito amor foram a base para implantação da AMA no município.

Quem observa hoje o sucesso e o progresso que a Ama (Associação dos Pais e Amigos dos Autistas) de Campos Novos tem alcançado não imagina quantas barreiras existiram no caminho. O terceiro setor sempre enfrentou muitas dificuldades, mas hoje sua importância é nítida haja vista os resultados apresentados ao longo do tempo. Por trás de toda entidade há pessoas comprometidas a lutar pelas causas que acreditam. Vera Otonelli Durli, colabora da Ama participou da editoria ‘Quem Conta a História’ e nos fala sobre seu sentimento pelos autistas e pessoas com deficiência, os desafios enfrentados e o início da Ama no nosso município.

Atenta as pessoas ao redor, Vera, ainda criança na Barra do Leão, onde nasceu, se sensibilizava por aqueles que apresentavam um comportamento atípico. Aos 11 anos mudou-se para a cidade, apesar da pouca idade Vera estava comprometida com seu objetivo de se tornar uma professora que ajudaria pessoas com deficiência. “Desde pequena eu me interessava em entender por que as pessoas tinham deficiências. Eu observava e ficava frustrada por não poder fazer nada por elas. Eu queria estudar e entender como tudo isso funcionava”, recorda.

As dificuldades no caminho surgiram ainda na época dos estudos, pois as instituições de ensino não davam atenção a área da educação especial e havia pouquíssimos estudos neste sentido. Mas Vera não se desestimulou diante das circunstâncias. “Decidi fazer o magistério. Não estudávamos sobre pessoas com deficiência. Eu tentei direcionar meu estágio para a Apae, mas na época eu precisei fazer um estágio duplicado para que o certificado de conclusão tivesse validade. No último ano do magistério, em 1991, procurei a diretora Ulda Varela, fundadora da Apae em Campos Novos, e pedi um emprego. Eu me realizei com tudo aquilo. O projeto final do magistério foi sobre a Equoterapia dentro da Apae”, conta.

Em Campos Novos a Apae era a única entidade que oferecia apoio as pessoas com deficiência. Mas Vera percebia que elas precisavam de atendimento direcionado as suas necessidades. Para dar continuidade a seu projeto ela buscou se especializar, decidindo estudar pedagogia na Unoesc. Na Universidade o estudo sobre educação especial também eram vagos. “Na época a instituição também não aceitava o estágio na área de educação especial. Eu aprofundava meu estudo o máximo que eu podia. A área dos transtornos era o que mais me chamava a atenção, e para valer o meu estágio eu tive que fazer de forma duplicada na Apae. Fiz dois Tcc’s voltados as pessoas com deficiência. Eu abri muitos caminhos dentro Unoesc nesta área. Em 1994 fiz a primeira pós-graduação na UNC, em Caçador, voltado ao autismo, pois sempre tive vontade de entender essas pessoas”, explica.

Até se dedicar integralmente ao autismo, Vera teve uma participação muito grande no processo de aceitação e difusão da educação especial na região. Após formada, ela atuou na Gerência Regional de Educação (Gered) e não moveu esforços para incentivar a inclusão de pessoas especiais. “Em 2003 foi fundada Gered em Campos Novos. E eu fui convidada para coordenador os oito municípios. Eu fundei as salas de recursos para deficientes visuais e deficientes auditivos, não havia nada direcionado a eles”, afirma. A Acadav foi um projeto de autoria da Vera.

Com a Apae e a Acadav atuando em Campos Novos, Vera precisava lutar pela causa dos autistas. Faltava apoio para isso, mas ela recuperou as forças quando decidiu sair da Gered, em 2006, e voltar para a Apae. Na entidade ela manteve contato com vários autistas, aumentando sua disposição em buscar um lugar digno para eles. Como foi que tudo aconteceu? Ela tenta resumir:

“As pessoas diziam que em Campos Novos havia apenas um autista. Mas haviam muito mais, eles apenas estavam trancados em casa e tratados como esquizofrênicos ou loucos. Na Apae eu trabalhava com sete autistas, e eu conhecia mais oito que estavam sem atendimento porque eram agressivos. Tomei a iniciativa em fazer uma reunião com os pais dos autistas para me apoiarem na fundação da Ama no município. Convidamos mais pessoas da comunidade, clubes de serviços e logo conseguimos fundar a Ama. Em 2009 já estávamos com o estatuto pronto. O Doutor Maike Fagundes foi o nosso advogado voluntário para nos ajudar na documentação. Levamos ao prefeito e vereadores e tivemos o apoio para início das atividades. Alugamos uma casa no centro para atender 15 autistas”, relatou.

Esta história foi escrita com muita luta, dedicação e amor. O empenho rendeu ao terceiro setor legislações que o amparam. Vera cita a lei que estabeleceu o Marco Regulatório como uma grande conquista. “Sinto muita gratidão a Deus por ter dado tudo certo. A Ama foi projetada para fazer a diferença na vida das pessoas com autismo e das famílias. Já somos uma referência no estado. Em breve vamos construir a nossa sede, o Centro de Equoterapia. Campos Novos só tem a se orgulhar de ter uma instituição desse porte, prestando serviço especializado. Nesse espaço vamos proporcionar salas adequadas, consultório odontológico adaptado, uma clínica que ofereça todas as terapias que precisam. Temos este sonho a concretizar no município. O Centro de Equoterapia também é um sonho que trará muitos benefícios”, destaca.

Vera finaliza relembrando pessoas que ajudaram com amor a construir essa história. Elacita a professora Silmara Fatima Carlos França, que infelizmente faleceu. “Ela foi uma colaboradora desde o início. Me auxiliou em todas as dificuldades da Ama. Foi uma pessoa que tinha um amor muito grande pelos autistas e defendia esta causa junto comigo”, declara saudosa. Com certeza todos os envolvidos nesta luta são protagonistas na construção da história de Campos Novos.

*Reportagem publicada no jornal ‘O Celeiro’, Edição 1680 de 10 de junho de 2021.

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