Oportunidade perdida

Venda da área adquirida para construção do aeroporto em 1999, falta de execução de um novo projeto e valores atuais da comercialização são motivos de questionamentos à administração do PMDB.

A não concretização do projeto para construção do aeroporto em Campos Novos voltou à pauta. Com recursos no valor de R$ 325 mil em uma conta bancária, deixados pela administração passada, a área de quase 60 hectares estaria avaliada hoje em R$ 5 milhões. Conforme registros do Jornal O Celeiro, a compra da área localizada aos fundos da Caixa D’Água, foi concretizada em fevereiro de 1999, após quase um ano de trabalho da Comissão Pró Construção do Aeroporto formada por lideranças representativas da comunidade e presidida por João Carlos Di Domenico (Paco). Naquela data, a aquisição foi viabilizada por meio de um termo de compromisso de compra e venda e pagamento da primeira parcela. O terreno custou R$ 120 mil, sendo que em 12 de fevereiro de 1999 foi pago o montante de 50%. Dos R$ 60 mil pagos naquela data, R$ 45 mil foram arrecadados da antecipação de tributos pagos à prefeitura pelas empresas Copercampos, Indústria de Máquinas Bruno, Coocam, Gerwal, Iguaçú Celulose e Papel, Sindicato do Comércio Varejista, Lojas Zortéa e Estrutural Zortéa. Os R$ 60 mil restantes foram pagos em outras duas parcelas, em julho de 1999 e janeiro de 2000.

Naquele dia o presidente da Comissão Pró Aeroporto disse que a compra do terreno era apenas a primeira etapa do trabalho. Hoje João Carlos Di Domenico lamenta a venda da área adquirida e questiona qual projeto foi viabilizado pela Administração passada para tornar Campos Novos um Polo Regional. “Quantas pessoas saem hoje de Campos Novos para pegar um voo em Chapecó, por exemplo? Um aeroporto é um projeto regional, não é um pensamento local. Para pensar em aeroporto, tem que pensar grande, não pode ser medíocre. Faltou um pensamento regional de um líder regional. Quando fizemos alguma coisa para poder dar este salto, o poder público resolveu acabar com tudo, para fazer o que? O que fez com o dinheiro? Abandonou o aeroporto para implantar qual o projeto de crescimento e desenvolvimento? questionou João Carlos.

João Carlos Di Domenico

Em maio de 2005, a Administração do PMDB encaminhou à Câmara de Vereadores, projeto de lei que autorizava a administração municipal a leiloar o terreno do aeroporto adquirido em 1999. Na época a avaliação indicava que a área era de R$ 643.500,00, e, ainda, que o prefeito Nelson Cruz, ao anunciar a intenção da administração em vender argumentou que os recursos seriam aplicados em projetos sociais e na geração de empregos no município. Em 28 de fevereiro de 2007, a prefeitura concretizou a venda, por meio de leilão, de duas das quatro áreas que integravam o terreno do aeroporto e conforme a lei aprovada na Câmara se estabelecia reserva de dinheiro para compra de outro terreno com aprovação do DAC e Infraero, já que emenda do legislativo determinava que 15 hectares deveriam ser destinados à construção de um aeródromo.

Paco considerou ainda, como exemplo do que perdeu Campos Novos sem a execução do projeto, o grande salto que deu Chapecó após a implantação do aeroporto, onde embarcam 3.500 pessoas por dia, 123 mil só em 2018, conforme reportagem publicada pelo Diário Catarinense na segunda-feira, 30 de abril. Considera também a geografia e o clima ideais em Campos Novos, recordando que o projeto na época tinha estudo de viabilidade do Departamento de Aviação Civil (DAC). “Tudo aprovado no DAC, foi o prefeito Athos de Almeida Lopes que pediu este projeto, que depois não foi viabilizado por incompetência pública, dos gestores públicos, que acharam melhor fazer estrada e comprar máquinas. O planejamento deste projeto passava pelo acerto com a Enercan (Campos Novos Energia S.A.), para ser a compensação da Enercan”, afirmou.

Um aeroporto é requisito para instalação de grandes empresas no município, diz ainda João Carlos Di Domênico. “Com certeza, o que qualquer empresário procura hoje é acesso logístico. A grande diferença é a logística. Aeroporto é fundamental. O estudo do aeroporto feito na época pelo prefeito Athos e também um trabalho importante desenvolvido pelo prefeito Bruno Schaly, abrangia até Erechim, uma grande região, porque o aeroporto de Passo Fundo não existia na época também”.

Planta Planialtimétrica da área desapropriada

Para João Carlos Di Domênico o sentimento da não concretização do projeto é de desânimo. “O sentimento é de desânimo para com a coisa pública de Campos Novos. Os empresários levantavam às 7 da manhã para fazer reunião e resolver o problema do aeroporto durante dois anos. Oito empresas pagaram o terreno, doaram à prefeitura para receber a longo prazo, com crédito de ICMS e o cara vendeu a área, desconsiderou tudo isso. Vendeu porque queria vender. Eu acho que hoje eu até entendo as pessoas que estão desmotivadas em pensar no conjunto público, não houve compromisso com o crescimento da cidade. Então se perdeu o grande pulo regional”.

Mapa dos confrontantes do terreno do aeroporto

O empresário agropecuário entende que a perda da oportunidade de construção do aeroporto de Campos Novos tem reflexos em vários setores de desenvolvimento da economia camponovense e regional. Os atuais Secretários Municipais de Indústria, Comércio e Turismo, Ademir Bebber e de Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente, João Batista Ramos de Almeida (Tita), também considerou algumas perdas, afirmando que o município comportava todas as condições na época para execução do projeto.

Já o Secretário Municipal de Planejamento e Coordenação Vilmar Ferrão, informa que a administração possui hoje apenas informações deixadas pela administração passada, um projeto de maio de 2012, onde consta uma área para aquisição, porém, segundo o secretário, não se sabe se havia interesse em adquirir ou se existia uma negociação. Além disso, existem os R$ 325 mil numa conta bancária, oriundo do leilão do terreno que era do município. “O que sabemos é que existia um terreno do município, que foi vendido e daquele valor comercializado tem R$ 325 reais numa conta bancária, é o que temos conhecimento”.

Secretário Ferrão disse também que no momento não há projetos da atual Administração que envolvam a intenção de retomar o projeto de construção de um aeroporto, em função de outras demandas e necessidades do município, como por exemplo, aquisição de terreno para construção de moradias populares, de área destinada à implantação da farmácia municipal, além de uma creche e um posto de saúde adaptados em residências nos Bairros São Sebastião e Santo Antônio respectivamente, e, ainda, um posto de saúde que funciona adaptado no CAIC e um processo do caso do Pinheirão, uma área particular que o município investiu recursos públicos e precisa decidir se adquire ou não.

*Reportagem publicada no jornal “O Celeiro”, Edição, 1427 de 03 de Maio de 2018.

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