Cooperativas ainda sentem os impactos deixados pela paralisação dos caminhoneiros

Produtores são os mais afetados com instabilidade de valores

Faz tempo que a paralisação dos caminhoneiros acabou e tudo já voltou a sua normalidade, mas as cooperativas ainda vivem os reflexos da greve, e estão trabalhando bastante para se manterem de pé, porque os prejuízos não foram poucos. Um dos principais setores que alavancam a economia brasileira, que é a agropecuária, está sendo afetado por algumas decisões tomada pelo Governo Federal para que a greve tivesse fim. Pequenas, médias e grandes cooperativas reclamam que as decisões resolveram a situação dos caminhoneiros, mas prejudicou os demais setores que tanto influenciam a economia nacional. O setor do agronegócio de Campos Novos tem se empenhado em correr atrás do prejuízo para conseguir compensar as perdas, e uma das queixas unanime é com relação a tabela de frete estabelecido pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que tem cobrado valores absurdos. Neste processo os produtores rurais acabam sendo ao mais afetados porque não lucram o equivalente ao que foi investido na produção.

A reportagem do jornal O Celeiro conversou com representantes de algumas cooperativas de Campos Novos para ouvir as queixas e atitudes no pós-greve. A equipe da Cooperativa Agropecuária do Celeiro Catarinense (Coperacel) diz que a greve trouxe muitos transtornos. Hoje o que dificulta o trabalho da Coperacel é a questão dos fretes estabelecidos pela ANTT que, segundo eles estão muito acima do que vinha sendo praticado. Este fator tem influenciado na negociação principalmente dos fertilizantes para a próxima safra. O grupo reclama que o governo atendeu a demanda das transportadoras e caminhoneiros, instituindo um tabelamento de frete sem consultar os demais setores envolvidos na atividade produtiva, mas não avaliou a extensão dos danos causados ao agronegócio como um todo. Mas apesar dos impactos da greve eles continuam o trabalhando honrando todos os contratos, afirmando que a adoção desta tabela onera os custos de produção trazendo prejuízos diretos ao produtor rural.

O gerente comercial da Copercampos, Rosnei Soder, relata que em consequência da greve a cooperativa tem passado por uma experiencia similar com prejuízos consideráveis. Além dos dias parados em decorrência da greve a empresa também ficou parada por mais dez dias em função dos valores da tabela da ANTT que impossibilitaram a embarcação de algumas mercadorias. Hoje a transportação tem sido feita, mas tem sido bem abaixo do esperado pela empresa. Somente as operações de frete vão custar cerca de 3 milhões a mais de custo para a cooperativa. Esta situação também causou atraso nas entregas impedindo o pagamento das tradings para a cooperativa, já que o valor só é creditado quando as mercadorias são entregues. “A cooperativa talvez não consiga realizar as entregas até a data determinada, que seria até o final deste mês de junho, e isso vai nos prejudicar porque não vai entrar dinheiro no caixa”, relata. No caso dos contratos assinados antes da greve o prejuízo calculado gira em torno de R$25,00 por tonelada, valor que a própria Copercampos terá que arcar se a tabela vigorar. Nos contratos pós-greve foi fixado um frete mais alto por conta desse esperado aumento. Porém independente da alteração no mercado, Rosnei garante que os contratos serão cumpridos mesmo com atraso, e que os associados e produtores receberão em dia para que ninguém saia ainda mais prejudicado. A Copercampos conta com frota própria, com quase 40 caminhões, mas mesmo assim ainda se faz necessário verbas para custear um veículo, e esta frota consegue atender menos de 10% da demanda.

As questões levantadas até o momento envolvem apenas bens pecuniários, mas deve-se lembrar que a cooperativa também lida com seres vivos, como os suínos, que passaram dias sem alimentação correta causando perdas que demoram a ser recuperadas. Para Rosnei esta situação está além do controle das cooperativas, segundo ele o que se pode fazer é tentar evitar ainda mais perdas para a empresa. “Isso leva tempo para se normalizar. É difícil prever uma data para recuperar o que foi perdido, talvez entre seis a sete meses. Só o tempo e muito trabalho para colocar a casa em ordem”, diz Rosnei ainda reiterando que a greve que durou apenas onze dias pode acarretar no mínimo em mais de 30 dias de atraso, perdendo praticamente um mês de negócios.

A Cooperativa Agropecuária Camponovense (Coocam) também compartilha de algumas dessas realidades. Riscala Fadel Junior, vice-presidente da cooperativa relatou que as perdas foram expressivas afetado toda a cadeia produtiva e levará um tempo até que a cooperativa se recupere de todos os impactos sofridos. Ele pontuou sobre a importância do transporte terrestre nas atividades agropecuárias, e que a ausência deles afetou todas as etapas de produção, desde o início até a fase de entrega, e sem o transporte o trabalho é impedido de ser realizado prejudicando todos os demais setores da empresa. Por exemplo, hoje apesar de estar operando normalmente a Coocam ainda precisa lidar com os animais que passaram por um período de estresse porque ficaram sem alimentação adequada, e perderam peso, neste caso levará tempo até a recuperação completa dos animais. “A agropecuária não é como uma indústria que você desliga as máquinas e vai embora, aqui lidamos com seres vivos que precisam ser cuidados”, explicou Riscala, ao falar sobre a situação da cooperativa e seus esforços em manter os trabalhos em dia.

O vice-presidente também ressaltou o que as demais cooperativas disseram, com relação ao fato do governo solucionar o problema dos caminhoneiros, mas provocar um problema a mais sobrecarregando toda a população e empresas através de impostos que visam pagar a conta dos prejuízos. Fora levantando questões que podem vir a acontecer futuramente. “No Brasil é difícil sobreviver com esta carga tributária, os caminhoneiros tem razão, mas outros setores deveriam também se mobilizar. As empresas não aguentam mais a carga tributária”, comenta ao se posicionar sobre a situação da crise, e afirmando que as perdas são significativas não só para Campos Novos, mas também para o Brasil, acrescentando que os efeitos podem impedir o crescimento do Produto Interno Bruto.

Apesar das consequências e desafios as cooperativas de Campos Novos têm conseguido correr atrás do prejuízo, e todas estão operando normalmente e garantem que as culturas de verão já estão em andamento. Apesar das perdas as empresas conseguiram manter seu quadro de funcionários, e esperam que em breve possam operar com margem de lucros suficientes para que todos sejam beneficiados.

*Reportagem publicada no jornal “O Celeiro”, Edição 1534 de 21 de Junho de 2018.

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