A irreversível participação das mulheres na política

Marilisa Boehm

Quando aceitei disputar a vaga de vice-prefeita de Joinville, na eleição de 2012, muitas pessoas me criticaram. Nas ruas, o público masculino me dizia que eu deveria desistir, pois teria uma eleição “garantida” para a Câmara de Vereadores. E, de modo surpreendente, uma grande parcela feminina do público alegava que os pleitos majoritários eram para os homens. Respondi para todos que eu manteria minha palavra ao ex-deputado federal e meu saudoso amigo Marco Tebaldi, que me convidou para integrar a chapa com ele. Meu objetivo naquela campanha não era apenas o resultado eleitoral em si. Eu estava convicta de que aquele era uma grande oportunidade para ajudar a fomentar ainda mais a participação feminina no processo político.

Em nosso país esta é uma luta que iniciou ainda no início do século XX. Em 1910, Leolinda Daltro fundou o Partido Republicano Feminino, enquanto Bertha Lutz criou em 1922 a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, instituições que pressionavam o governo por direitos da mulher, incluindo o de votar. Em 1927, em Mossoró, no Rio Grande do Norte, a professora Celina Guimarães Viana conseguiu esse direito por meio de uma lei estadual, algo que as demais brasileiras só teriam em 1932. De lá para cá, a história é marcada pelo esforço e dedicação das pioneiras que tiveram a coragem de ser mais do que eleitoras. Foi assim com Alzira Soriano, em 1928, primeira latino-americana a ser eleita prefeita (de Lajes-RN), e com a nossa catarinense Antonieta de Barros, que em 1934 foi a primeira mulher negra a se eleger deputada estadual.

Depois delas, muitas outras passaram a ser filiadas em partidos políticos, a se candidatar e a conquistar os mais variados cargos eletivos possíveis no Brasil. Porém, os números mostram que a nossa participação ainda é abaixo do ideal. Dados da Justiça Eleitoral indicam que no ano de 2022, mesmo representando 53% de todo o eleitorado nacional, tivemos só 34% das candidaturas e apenas 18% de nós fomos eleitas.

Entrar e permanecer na política para nós não é uma questão de competição. Não somos melhores nem piores do que os homens. Mas com nosso olhar feminino e sensibilidade temos totais condições de contribuir muito e ajudar a construir uma sociedade melhor.

Não tenho dúvida alguma de que a participação efetiva das mulheres na política, quer seja no Poder Legislativo, quer seja no Poder Executivo, já é uma realidade irreversível e que continuará crescendo. Vi isso no Oeste de Santa Catarina, em março deste ano, quando fiz palestras nas cidades de Caibi e Palmitos. Cada evento contou com a presença de 400 entusiasmadas mulheres. E para minha alegria, o número de vereadoras eleitas e suplentes que vieram de municípios de toda a região era muito grande.

E a eleição de 2012? Eu perdi, mas ganhei. Não me elegi, mas a partir do meu exemplo outras quatro candidaturas femininas aconteceram em 2016: uma para prefeita e três para vice. No pleito seguinte Joinville elegeu uma vice-prefeita.

Por: Por: Marilisa Boehm
Vice-governadora do Estado de Santa Catarina

*Artigo publicado no Jornal O Celeiro, Edição 1797 de 21 de setembro de 2023.

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