Município desenvolve nova vocação econômica: o agronegócio
Eduardo Zortéa conta sua história sobre início das lavouras e utilização de maquinas no campo.
Durante muitos anos Campos Novos teve na madeira sua principal fonte de renda. Rica em araucárias, a terra era amiga e provedora da comunidade camponovenses. Com o tempo a vocação madeireira mudou, mas a terra continuou sendo o meio de subsistência através da agricultura e da pecuária. Mas foi um caminho longo até que Campos Novos se tornasse um grande nome no estado de Santa Catarina. Apesar das excelentes condições que contribuíam para o sucesso, os produtores ainda não tinham o conhecimento e prática para aproveitar bem o tesouro que elas tinham abaixo dos pés.
O empresário Eduardo Zortéa participou deste começo. Vindo de Capinzal ainda bem moço, ele foi trazido por seus pais para Campos Novos, no ano de 1963, com o objetivo de vender tratores na região. Mas nem tudo saiu como esperavam e Campos Novos ainda havia muito a evoluir. “Chegamos aqui não tinha lavoura, só gado no pasto. Nós iriamos vender trator para quem? Abrimos a primeira lavoura num local que não era nosso. Plantamos trigo, mas acabou dando granizo e acabou com tudo. Meus pais fizeram uma pausa para repensar. Quando viemos de Capinzal, o pai, junto com os seis filhos, que eram muito inquietos, falou: Piazada, aqui em Campos Novos é gigolô de vaca. O que ele quis dizer? Que eram campos extensivos, mas com poucas cabeças de gado em cima. Apenas o senhor Gentil Camargo, que tinha conhecimento, era uma referência para nós. Depois da primeira e segunda guerra vieram muito alemães e italianos para o Brasil e para a região. Não existia nada de lavoura, só gado extensivo”, explicou.
Eduardo também relembra como foi fomentado o cultivo do solo na região e o início dos trabalhos que culminariam no desenvolvimento do município. “Começamos o plantio aqui e assim que colhemos as primeiras safras levávamos a um armazém perto da saída para o Rio Grande do Sul, mas eram pequenos e insuficientes. Em 1970 nós não tínhamos onde entregar, e não tinha asfalto bom para escoar, eram péssimas condições. Foi quando reunimos algumas pessoas para construir uma unidade para receber grãos”, conta.
O objetivo inicial da família de Eduardo era vir para Campos Novos vender tratores, mas o início da lavoura estava tão precoce que o trabalho mudou de foco e foi preciso primeiramente investir em aprendizado e meios de empreender o serviço no campo. “Nós não vendemos nenhum trator, a nossa atividade principal não era lidar com equipamentos e sim com as obras para receber o grão, buscar sistemas para fazer a importação, e o recebimento e o armazenamento de grãos”.
“Em 1975, eu e meu irmão adentramos o Centro-oeste, mas vimos muitas terras devolutas. Nós apenas armazenávamos para a comercialização. Com o tempo construímos mais espaços e geramos outras atividades”, declarou, afirmando que Campos novos precisou mudar sua cultura para implantar uma nova realidade. Nesta conquista, o empresário cita a atuação do Pe. Quintilho que incentivou o desenvolvimento. “Eles não haviam comprado as terras, elas vinham de uma cisão que o Governo fez para povoar, além disso era uma cidade violenta, por isso o Pe. Quintilho resolveu “trocar o revólver pela caneta”, e ele conseguir minimizar a violência, a ignorância e induziu um novo pensamento”, relembrou.
Levaram anos para que Campos Novos se transformasse e tornasse suas terras produtivas. Por isso, Eduardo comenta o investimento que foi feito na lavoura e na pecuária, e os benefícios da aplicação do plantio direto. “O trabalho do homem do campo era muito rudimentar. Passávamos grande, tombávamos o solo para dar condições de plantar. Dai começamos o plantio direto. Desenvolvemos aqui este sistema que é extraordinário. Mantemos a estrutura de solo o protegendo, evitando erosões, compactações. Hoje temos condições de colher muito mais. Órgãos especializados nos ajudaram a buscar soluções e trouxeram para cá novas tecnologias”, relatou.
Com a evolução do campo e da dinâmica na lavouras as máquinas foram sendo introduzidas nas propriedades e foram aliadas ao homem do campo, inclusive no caso do empresário que foi um dos fomentadores das novas tecnologias. “A paixão pela agricultura nos moveu. Comecei a plantar alho, e percebi que tinha condições de crescer. Toda máquina que eu pegava eu tinha que modificar, então eu pensei: por que não investir em uma indústria de plantadeiras? Dai surgiu a Genius. Ela é muito avançada e faz o que o produtor quer. A agronomia é feita por três pilares: a parte física, a biológica e estrutural. A evolução de homem do campo se deu de acordo com a evolução da tecnologia”, afirmou.
Após anos, hoje o trabalho continua, mas com mais ferramentas disponíveis para incrementar o agronegócio, que hoje apresenta vertentes em várias áreas. Campos Novos se tornou o grande celeiro do estado e suas potencialidades tem sido aproveitadas. “Aqui somos privilegiados. Temos topografia, temos um solo fantástico, temos índice pluviométrico. O que se produz aqui é muito bom. Aqui temos problema com mão de obra especializada. Mas temos muito potencial. Aqui é lugar muito bom de se viver, é um lugar seguro, bonito, mas podemos desenvolver mais. É preciso investir no jovem. Incentivar as habilidades, o empreendedorismo. Não é uma despesa é um investimento. Investimento não custa caro”, finaliza Eduardo.
*Reportagem publicada no jornal ‘O Celeiro’, edição 1670 de 01 de abril de 2021.