A PRIMEIRA ELEIÇÃO DA HISTÓRIA DE CAMPOS NOVOS E CURITIBANOS

O dia 20 de julho é um dia especial para a história das duas maiores cidades do Meio-Oeste catarinense – Curitibanos em Campos Novos. É o aniversário de 174 anos da primeira vez na história que houve, no local, uma eleição para políticos locais – isto é, não do governo imperial, provincial ou da sede municipal em Lages.

No primeiro de abril de 1851, o presidente da província de Santa Catarina, manda um ofício para a câmara municipal de Lages perguntando sobre a viabilidade e utilidade de se criar um novo distrito de paz em Campos Novos e Curitibanos (reunidos), dois pequenos povoados no município de Lages. Apenas oito dias depois, em 9 de abril, a câmara, representada por Manoel Ribeiro da Silva diz que é de “primeira necessidade, e de indubitável utilidade a criação de hum distrito de Paz, nos dois Quarteirões munidos dos Campos Novos e Curitibanos, tanto pela grande distancia d’aquelles lugares a esta Villa, como pela abertura da estrada a que actualmente se está procedendo por parte da Provincia de S. Paulo; estrada esta que atravessando tanto os Curitibanos como os Campos Novos (…)”. (Figura 01)

Figura 1 – Ofício da Câmara Municipal de Lages, 09/04/1851 – FONTE: APESC

Em tempos anteriores, esta região sofria certo abandono, com inclusive muito protesto de lageanos à criação de um registro para taxar a passagem de animais no Pontão, hoje em Campos Novos. O governo de SP considerava o Meio-Oeste catarinense como parte de seu território, questão essa herdada pelo governo paranaense e só resolvida em 1917, com base em relatório do já falecido conselheiro Mafra pelo lado catarinense, contra o Paraná, representado pelo eterno presidenciável Ruy Barbosa. E como tentativa de exercer a sua influência sobre os locais, o governo paulista começa a construir uma estrada – sem anuência do governo catarinense, o que faz com que a câmara de Lages, temendo perder a renda gerada pelo registro do Pontão, comece a considerar a demanda dos camponovenses e curitibanenses.

Em 26 de abril, o presidente da província de Santa Catarina responde mandando criar a freguesia e é marcada a eleição para 20 de julho. No dia 24 de julho, há a resposta de Lages detalhando como foi a eleição e mandando os resultados.

No tanto, antes, um pouco de contexto. No Império do Brasil, o voto era muito limitado. Além de apenas brasileiros poderem votar, o que de cara já excluía escravos (que não eram considerados cidadãos, ainda que fossem nascidos aqui). Também eram impedidos de votar mulheres, menores e pessoas sem renda suficiente, que era estabelecida em 100$000 (ou 100 “mirréis”) anuais por “bens de raiz, industria, commercio, ou Emprego”.

Com essas limitações, o número de eleitores qualificados em ambos distritos era de apenas 56 pessoas. No entanto, a eleição foi um desastre. Dos 56 eleitores, apenas cinco compareceram! Os outros 51 foram multados em dez réis cada um por não terem justificado a ausência, com regulava a lei eleitoral de 1846.

Foi tão baixo o comparecimento que a câmara decidiu não empossar sem antes confirmar com o presidente da província. A câmara também informou que essa falta de comparecimento foi “involuntária e motivada pelas grandes enchentes que houverão em meia do deste mez, e que impedio a passagem do Rio de Marombas.”. Em 25 de agosto de 1851, a presidência da província manda empossar tais pessoas.

Figura 2 – Ofício da Câmara Municipal de Lages, 26/07/1851 – FONTE: APESC

Como parte da lei eleitoral de 1846, cada pessoa indicava numa cédula quatro pessoas para o cargo, sendo as três mais bem votadas no geral eleitas. Como haviam cinco eleitores, eram 20 votos, que foram divididos assim:

  • 5 votos para José Custódio de Mello (eleito);
  • 3 votos para Domiciano de Azevedo Mascarenhas, Evaristo Coelho de Ávila e Serafim Luiz de Siqueira (eleitos);
  • 2 votos para João Fernandes Caripuna, Isidro Alves da Rosa e José Manuel Leite (não eleitos). (Figura 02).

Sobre a genealogia dos eleitos:

  • José Custódio de Mello, que recebeu voto dos cinco eleitores, era natural de Castro-PR, onde foi batizado aos 11 de abril de 1803, filho de Joaquim do Mello Rego, também castrense, e Gertrudes Maria de Camargo, curitibana. Casou em Lages em 7 de junho de 1845 com Anna Cordeiro de Almeida, filha de Elias de Almeida Leite Penteado e Vicência de Almeida Leite. Ele morreu por volta de 1871, ano que foi inventariado na comarca de Lages. O primeiro registro dele encontrado na região de Lages é de 1845: o seu registro de casamento. Residia em Curitibanos.
  • Domiciano de Azevedo Camello de Mascarenhas, sorocabano, batizado aos 27 de janeiro de 1799, filho do português do Porto Antonio Bernardo de Azevedo Camello e da mineira de Pouso Alto, Anna Francisca de Jesus. Casou duas vezes, a primeira em 1818 em Sorocaba com Maria de Almeida, com quem teve ao menos sete filhos – todos no estado de São Paulo. Após envolvimento político em movimentos revolucionários liberais em 1842, foge ao Rio Grande do Sul e após idas e vindas, acaba parando em Campos Novos. Após a morte de Maria de Almeida, se casa uma segunda vez em 1861 em Tatuí-SP com Maria da Conceição, filha de Inácio Mendes de Almeida e Leonarda de Almeida. Domiciano foi inventariado em Lages em 1865 e residia em Campos Novos.
  • Evaristo Coelho de Ávila, diferentemente dos outros, era família tradicional instalada já havia muito nos Campos de Lages. Este sobrenome deriva de Miguel Coelho d’Ávila nascido em 1752 em São Miguel, distrito de Biguaçu-SC. Sua mãe, Catarina Felícia (filha de Paulo de Ávila) havia chegada ao Brasil dos Açores e casado em Desterro em 1748 com o Sebastião Paulo Coelho, natural de Paranguá. Miguel casou em Itapeva-SP com Josefa Maria de Lima e foi pai de Evaristo Coelho de Ávila, nascido em 1795 em Itapeva. Casou aos 1814 em Itapeva Florencia Maria de Moraes e foi um dos habitantes mais antigos de Campos Novos.

    Figura 3 – Assinatura de Evaristo Coelho de Ávila.
    FONTE: Museu do Judiciário Catarinense

Em 1843, ele regularizou na justiça posse de suas terras, que disse “sendo parte por Compra que fez ao Cidadão Joze Moreira Branco, e outra parte ao Cidadão Ignacio Carneiro Lobo q. as obtiverão hum por conceção na conformidade das Ordens do Ex.mo Snr. Prezidente João desta Prov.a que então era o Brigadeiro João Carlos Parda e da Camraa Municipal desta Villa, e outro por compra feita ao Cidadão Manoel Ignacio da Silveira contempolado na repartição que fez dos Campos como Authorizado pela Cara o Cidadão Antonio Lin de Cordova (…)”, sendo que suas terras eram limitados pelo rio São João (fronteira com as terras de Antonio Alves), até a foz do rio do Inferno e até a Serra. (Figura 03)

  • O último dos eleitos, Serafim Luís de Siqueira, era residente em Curitibanos.
Gustavo Henrique de Almeida Pedroso, Genealogista

Filho de Teresa Maria com pai incógnito, casou em 1855 em Lages com Felicidade Maria de Ávila, filha de José Inácio Pereira e Angélica Maria de Ávila (casal este também curitibanense). Sobre este casal, a pesquisa de dados biográficos apresentou mais dificuldade, mas foi descoberto que foram pais de:

  • 1) Galdina 2) Firmina;
  • 3) Prudência Luísa de Siqueira;
  • 4) Firmino Luís de Siqueira;
  • 5) João Luís de Siqueira;
  • 6) Francisca Luísa de Siqueira;
  • 7) Elias Luís de Siqueira;
  • 8) Joana Luísa de Siqueira;

POR: Gustavo Henrique de Almeida Pedroso, Genealogista
Membro da ASBRAP – número 143, Membro do INGESC – número 124
Contato: (39) 338 383.5046, (49) 98870 4482

*ARTIGO Publicado no Jornal O Celeiro, Edição 1889 de 31 de julho de 2025.

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