A região onde atualmente se encontra o município de Campos Novos, no Meio-Oeste Catarinense, tem habilitação humana há pelo menos 5 mil anos. No entanto, a habitação branca é bem mais recente, datada do fim da década de 1830. Porém fica a questão: desde quando o local tem esse nome? Será desde 1881, quando ocorreu a emancipação? Em 1854, quando vira freguesia? Em 1851, quando vira distrito junto com Curitibanos? Ou será anterior a tudo isso?
Segundo a história oral da família Pedroso, seria porque o primeiro habitante da cidade – João Gonçalves de Araújo – viu pessoas queimando campos para fazerem surgir Campos Novos. Porém, isto é verificável nos documentos? Em essência: desde quando, os campos altos no Planalto Catarinense passaram a ser chamados Campos Novos?
CAMPOS NOVOS EM FONTES ADMINISTRATIVAS
1837, Antonio Lins de Córdova, alferes de Lages, manda um ofício ao presidente da Pprovíncia sobre a povoação de terrenos descobertos em Curitibanos. Três dias depois, em 19 de outubro, Antonio Caetano Machado manda um ofício ao Presidente da Província comentando sobre a descoberta de “campos extensos nos fundos dos Campos dos Curitibanos”. No segundo ofício, Antonio Caetano Machado comenta que no dia 17 de setembro conferiu os campos novos. Mas a descoberta já tinha alguns meses: em 17 de julho do mesmo ano, em seção ordinária da Câmara de Lages, foi comentado sobre estes campos, sendo no mês seguinte enviado um ofício ao inspetor do Quarteirão dos Curitibanos.
No primeiro ofício, de 16 de outubro, Campos Novos é citada sem nome, apenas como campos: “Tendo cido descuberto huns Campos [ilegível] extenços nos fundos dos Campos dos Coritibanos. Como varios abitantes deste Municipio, e do Districto da Vacaria os querem povoar com Sacrificio de suas Vidas pelos gentios celvagens (…)”.

Segue no ofício do dia 19, Antonio Caetano Machado diz: “Em virtude da Recomendação de Vossa Senhoria em Seção ordinária de 17 de Julho próximo passado, e officio de mesma dacta, [ilegível] dactado de 17 de agosto do Corrente anno, remetidos ao Inspetor dos Coritibanos, me dereguei com [ilegível], para os Campos novos em 17 de 7bro do [ilegível] anno em boa paz (…)”
É a primeira vez que a cidade recebe esse “nome” – ainda que seja evidente que, neste caso, o “novos” é uma descrição, não um nome propriamente dito.
Em livro sobre a história da cidade, Paulo Blasi (p. 32) cita uma petição de Isaías Pinheiro da Silva, dito um dos moradores mais antigos da cidade, datada de 1843. A petição de Isaías, com meu grifo, diz: “Izaias Pinheiro da Silva, morador do município de Lages diz, por petição, que achando-se na posse de um rincão e matos nos Campos Novos, neste município, que ele suplicante achando-se a seis anos com sua família, na posse de dito rincão (…)”. Infelizmente, Blasi não cita em que órgão estaria o documento ou que dia de 1843 ele foi feito.
Ainda em 1843, em 2 de maio, a Câmara de Lages envia ao Presidente da Província um abaixo-assinado contra um projeto de uma nova estrada do Rio Grande do Sul para São Paulo, que passaria por Campos Novos. Estar seria a primeira vez que a cidade é chamada com este nome, se desconsideramos a petição de Isaías, visto que não sabemos a data exata do documento.
CAMPOS NOVOS EM FONTES ECLESIÁSTICAS
A primeira presença de notórios camponovenses nos registros paroquiais de Lages é no livro de batismos de livros número 6, folha 14, em 11 de julho de 1838, quando o vigário interino Rafael Gomes de Silva batiza o inocente Jorge (futuramente, Jorge Ricardo da Silva), nascido aos 6 de junho de 1837, filho de Francisco Ricardo da Silva e Anna Maria de Mattos, tendo como padrinhos Generoso José de Oliveira e Antonio Lins de Córdova. Como Antonio não pode estar presente, foi representado por Isaías Pinheiro da Silva – irmão de Francisco Ricardo. Generoso José de Oliveira, não coincidentemente, era irmão de Maria de Assunção e Oliveira – esposa de Isaías Pinheiro da Silva. O assento não consta onde nasceu a criança ou onde ocorreu o sacramento do batismo.
No mesmo dia foi batizado Francisco (que passaria a ser chamado na vida adulta de Francisco Pinheiro da Silva), filho de Isaías Pinheiro da Silva e Maria de Assunção e Oliveira – tendo como padrinhos João Manuel da Silva Braga e Francisca Luiza da Cunha. Como os padrinhos não puderam estar presentes, foram representados por…Francisco Ricardo da Silva e Anna Maria de Mattos!
A folha 15 consta um assento de batismo realizado aos 10 de julho do mesmo ano (um dia antes, embora o batismo tenha sido anotado depois) de Itelvina, filha de Antonio Gomes de Campos e Joaquina Maria Borges – outros residentes de Campos Novos. Ela nasceu em 11 de novembro de 1837. No entanto, nenhum destes assentos menciona Campos Novos explicitamente.

O primeiro assento de batismo da Paróquia de Lages a mencionar Campos Novos explicitamente é datado de 24 de janeiro de 1856, de Honorato, filho de Felisbino Antonio de Nhaia e Maria Rodrigues da Conceição. A criança tinha como padrinhos “Gabriel dos Santos Martins e Anna Maria Pires casados, todos de Campos Novos.”.
Já o primeiro batismo que é dito explicitamente que ocorreu na cidade é de Vidal, filho de Antonio Rodrigues (de Almeida) e Jozefa Ferreira da Silva, batizado aos 23 de julho de 1856 – é dito que o batismo ocorreu na “Parochia de Sao Joao dos Campos Novos “.
CAMPOS NOVOS EM FONTES JORNALÍSTICAS
Em jornais, a menção mais antiga ao nome em jornais encontrada foi em 8 de janeiro de 1839, no jornal O Despertador, citando outro jornal, o Observador Paulistano, da edição de 21 de dezembro de 1838 , citando depoimento de 20 de novembro de 1838 no contexto da Revolução Farroupilha (meus grifos):
“Constando, porem, ao commandante que os farrapos reunião gente na Vaccaria, e que podião pelos Campos Novos vir e cortar o batalhão pela retaguarda, posto que ja estavessem na paragem chamada a ilha, meia legoa distante do lugar aonde vem abrir a passagem dos Campos Novos, por conselho dos officiaes, regressou o batalhão a fazer-se forte na margem do Norte do Rio Correntes, duas legoas para cá da Ilha (…)”.
CAMPOS NOVOS EM FONTES JUDICIAIS
Já em fontes judiciais, a primeira menção encontrada ao nome data de 1843. Aos 12 de abril deste ano, José Pedro Monteiro comparece diantes das autoridades judiciais de Lages para fazer uma denúncia, escrita dois dias antes. Residente em Lages, ele denuncia Francisco Vieira, Henrique Vieira e Flozinda Antunes – esta última, esposa de José!

A denúncia foi porque José foi viajar a negócios e ao chegar em casa, sua esposa não estava lá e havia fugido, junto com Henrique e Francisco Vieira, levando consigo “apeiros de cavalho hum chapiado de prata e tudo o mais que encontrarão dentro da mesma casa do Supe (…)”. A denúncia relatava o seguinte: “Diz Joze Pedro Monteiro, morador deste termo que tendo elle Supe ausentado-se de sua Caza, para os Campos Novos atratar de seus negocios isso por espaço de quinze dias (…)”.
Em setembro e outubro do mesmo ano, há uma onda de pessoas regularizando posses de suas terras – e ali a cidade é muito citada.
CONCLUSÃO

A conclusão que se chega analisando estes documentos é que a primeira menção a um lugar chamado Campos Novos no onde fica hoje o município (em oposição a campos que são novos) é de 21 de dezembro de 1838, no jornal O Observador Paulistano, citando o depoimento de um terceiro, cujo nome e identidade foi perdido para o tempo.
Ainda que a motivação do nome não tenha sido preservada nas fontes contemporâneas, há uma menção da vila com este nome – mas apenas como descrição: sugerindo que esta pode ser a origem do nome. A evolução da história do povoado nos leva até 16 de junho de 1854, com a Lei Provincial nº 377, quando ele é elevado à freguesia. Os campos novos receberam o maravilhosamente criativo nome de: Campos Novos.
POR: Gustavo Henrique de Almeida Pedroso, Genealogista
Membro da ASBRAP – número 143, Membro do INGESC – número 124
Contato: (39) 338 383.5046, (49) 98870 4482
*Reportagem publicada no Jornal O Celeiro, Edição 1893 de 28 de agosto de 2025.

 
 
                                     
					 
					 
					 
					
