Setembro Verde: a importância da doação de órgãos

Doações vem aumentando no estado de Santa Catarina, com órgãos, já captados em Campos Novos.

Setembro é o mês dedicado à conscientização sobre a doação de órgãos no Brasil, conhecido como Setembro Verde. A campanha tem como objetivo estimular a sociedade a refletir sobre a doação de órgãos, esclarecer dúvidas, desmistificar medos e mostrar como esse gesto pode salvar vidas.

Em Santa Catarina, o programa de transplantes é reconhecido nacionalmente, apresentando resultados consistentes ao longo dos anos. Em Campos Novos, a realidade local também apresenta avanços significativos, apesar dos desafios logísticos e estruturais.

Para compreender melhor essa realidade, o Jornal O Celeiro conversou com Joel de Andrade, médico intensivista e gerente do SC Transplantes, e com Rafael Manfredi, diretor-geral do Hospital Dr. José Athanázio, que trouxe um panorama detalhado da doação de órgãos na região.

SANTA CATARINA COMO REFERÊNCIA

Confira a entrevista com Joel de Andrade:

  • Formação e trajetória profissional

Joel de Andrade é natural de Urussanga, Santa Catarina.

Joel de Andrade

Formou-se em Medicina pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 1989 e concluiu residência em clínica médica e medicina intensiva em 1994. Atuou como intensivista na UFSC e na Secretaria de Estado da Saúde por dez anos antes de trabalhar no Hospital Governador Celso Ramos. Em maio deste ano, completou 20 anos como gerente do SC Transplantes.

  • Modelo espanhol de coordenação de transplantes

Segundo Dr. Joel, os resultados positivos obtidos em Santa Catarina decorrem da adoção do modelo espanhol de coordenação de transplantes, implementado no estado desde 2005. Esse modelo prevê que, em cada hospital doador, médicos e enfermeiros dedicados acompanhem todas as etapas do processo, incluindo: identificação, validação, manutenção, diagnóstico de morte encefálica, entrevista familiar e comunicação com a central de transplantes para distribuição dos órgãos.

  • Educação contínua e valorização dos profissionais

A educação contínua dos profissionais garante apoio técnico e emocional às famílias, enquanto a remuneração específica, de acordo com a produtividade, valoriza o trabalho. Além disso, a relação com a imprensa é transparente, fornecendo informações sobre todo o processo, inclusive em situações adversas.

Atualmente, o SC Transplantes atua em 72 hospitais de 33 cidades, capacitando mais de 3 mil profissionais. A educação ocorre desde 2010, por meio de seminários descentralizados com turmas de 24 alunos e duração de oito horas, abordando temas como doação de tecidos oculares, organização de salas cirúrgicas, curso de determinação de morte encefálica e treinamento para entrevistas familiares em situações críticas.

Cada curso é desenvolvido de acordo com as necessidades da central e dos coordenadores de cada hospital, tornando o aprendizado extremamente direcionado à prática diária.

  • Evolução dos resultados

O médico detalha a evolução dos resultados em Santa Catarina: em 2005, havia 7 doadores por milhão de população, em 2019, esse número subiu para 47,4, e em 2022, alcançou 44,8, enquanto a média nacional era de 19,5.

A diferença se explica pela gestão eficiente do sistema, na qual profissionais especializados realizam busca ativa de potenciais doadores, acompanhamento em UTI e contato prévio com famílias, reduzindo a recusa familiar para 28%, frente a 45% no Brasil.

  • Consentimento familiar e orientação à população

Sobre o consentimento familiar, Dr. Joel enfatiza que a regra no Brasil é que a decisão final cabe à família, mas que a vontade manifestada pelo doador em vida é quase sempre respeitada.

Ele aconselha: “Converse com sua família sobre a decisão de ser doador, seja no café da manhã, almoço ou jantar. Se a família conhece a sua vontade, ela a seguirá.”

  • Tipos de transplantes realizados

Santa Catarina realiza transplantes de rim, fígado, coração, pâncreas, tecido ósseo, válvulas cardíacas, tecido ocular e pele. Os procedimentos que mais impactam na sobrevida são os transplantes de rim, fígado, coração e pele, sendo que o transplante renal aumenta significativamente a sobrevida em comparação à diálise.

SETEMBRO VERDE ENGAJAMENTO

O Setembro Verde, segundo Dr. Joel, não é apenas para conscientizar a população, mas também para reforçar a importância do engajamento interno dos hospitais. “A doação de órgãos não é uma causa, é uma questão de saúde pública. Precisamos melhorar os resultados ano a ano por meio da gestão do sistema de transplantes”, ressalta.

DESAFIOS FUTUROS

O médico também aponta desafios futuros, como a adoção da doação de órgãos em assistência, de doadores com o coração parado, que depende de mudança legal, e a manutenção das equipes de coordenação, considerando que algumas chegam a mudar 140% ao ano. Para isso, estão sendo intensificados treinamentos e criada uma rede de apoio para entrevistas familiares em todo o estado.

Dr. Joel conclui: “A chance de precisar de um transplante durante a vida é cerca de cinco vezes maior que a de falecer em morte encefálica. Portanto, vale a pena doar. Com isso, Santa Catarina se torna mais segura para quem precisa de transplantes.”

Campos Novos: Captação de órgãos no Hospital Dr. José Athanázio

Em Campos Novos, o Hospital Dr. José Athanázio também atua em doações de órgãos, realizando captação ou encaminhamento de pacientes para transplante.

Desde a abertura da UTI, a unidade já realizou captação de órgãos de quatro pacientes com diagnóstico de morte encefálica.

O processo segue um protocolo rigoroso, iniciado sempre que há suspeita de morte encefálica e concluído apenas após confirmação diagnóstica.

A família é comunicada e orientada sobre a doação, que é um direito garantido por lei, e todo o processo é conduzido por uma equipe especializada do hospital, em parceria com a Central de Transplantes do estado. Quando a doação é autorizada, a captação pode envolver profissionais da instituição ou de outros estados, dependendo da necessidade.

SETEMBRO VERDE

Rafael Manfredi destaca que a campanha do Setembro Verde é essencial, pois a decisão final sobre a doação cabe à família do paciente. Ele reforça que uma única pessoa pode salvar ou transformar a vida de várias outras por meio da doação.

DESAFIOS ENFRENTADOS

Entre os desafios locais, Rafael menciona a desinformação e os mitos sobre a doação, a dificuldade das famílias em respeitar a vontade do falecido devido à fragilidade emocional, e obstáculos logísticos, já que Campos Novos não possui aeroporto e está distante dos centros que realizam transplantes. Mesmo assim, a coordenação com a Central de Transplantes garante que a captação ocorra de forma eficiente. Desde 2022, foram abertos 8 protocolos de morte encefálica, resultando em 4 doações efetivadas, 1 recusa familiar e 3 contraindicações clínicas.

ASPECTO HUMANO

O aspecto humano da doação também é destacado pelo diretor geral:

“Mesmo em um momento extremamente delicado, como a perda de um ente querido, ver uma família dizer ‘sim’ à doação é profundamente comovente. Trata-se de um gesto de generosidade e empatia que se transforma em esperança e vida para outras pessoas.”

Rafael enfatiza que o diálogo é fundamental para que a comunidade participe da campanha, compartilhando informações corretas e respeitando a vontade do doador.

SOLIDARIEDADE QUE SALVA VIDAS

O Setembro Verde representa mais do que uma campanha de conscientização. Em Santa Catarina, o sistema estruturado e a capacitação constante de profissionais tornaram o estado referência nacional em doação de órgãos.

Em Campos Novos, cada família que decide dizer “sim” à doação contribui para salvar vidas e gerar esperança.

Conversar sobre a doação, educar-se sobre o processo e respeitar a vontade do próximo são passos fundamentais. Cada ato de doação representa não apenas um gesto de solidariedade, mas uma oportunidade concreta de renovação e esperança para muitas pessoas.

*Reportagem publicada no Jornal O Celeiro, Edição 1897 de 25 de setembro de 2025.

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