Pacientes quem tomam a medicação antirretroviral corretamente, atingem a carga viral indetectável.

A campanha do Dezembro Vermelho, dedicada à conscientização sobre o HIV, a aids e outras infecções sexualmente transmissíveis, ganha destaque nesta época do ano e reacende um debate essencial para a saúde pública, a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e, principalmente, da quebra de mitos que ainda afastam muitas pessoas dos serviços de saúde.
A médica Vanessa de Souza Martins, formada pela UNISUL e especialista em Medicina de Família e Comunidade, explica que o mês simboliza um esforço coletivo para ampliar a testagem, orientar sobre as formas atuais de prevenção e reforçar o acesso ao tratamento. Segundo ela, o tratamento antirretroviral eficaz transformou o HIV em uma condição crônica controlável, reduzindo significativamente óbitos, internações e transmissão.
MITOS
Apesar dos avanços científicos e da ampla rede de atendimento oferecida pelo SUS, muitos preconceitos persistem. Vanessa destaca equívocos comuns, como a falsa ideia de que o vírus pode ser transmitido pelo ar ou pelo contato físico simples, e crenças ultrapassadas, como considerar o HIV uma “sentença de morte” ou associar o diagnóstico a julgamentos morais.
Esses preconceitos, observa a médica, não só dificultam o diagnóstico precoce, como também comprometem a adesão ao tratamento e fragilizam o vínculo entre a pessoa e o serviço de saúde fatores determinantes para o sucesso terapêutico.
PREVENÇÃO
Entre as estratégias mais eficazes, Vanessa ressalta o uso adequado de preservativos, a profilaxia pré-exposição (PrEP) indicada para pessoas com maior risco de exposição, e a profilaxia pós-exposição (PEP), que deve ser iniciada o mais rápido possível após uma situação de risco. Além disso, lembra que o próprio tratamento funciona como prevenção: quando a carga viral chega a níveis indetectáveis, a transmissão não ocorre princípio conhecido mundialmente como “Indetectável = Intransmissível”.
QUANDO TESTAR?
A recomendação é que pessoas sexualmente ativas realizem o teste ao menos uma vez por ano. No entanto, grupos com maior vulnerabilidade, casais sorodiferentes, gestantes e indivíduos que passaram por uma exposição recente devem testar com maior frequência. A detecção precoce, reforça Vanessa, é decisiva para iniciar o tratamento rapidamente e evitar complicações.
TRATAMENTO
Os esquemas de tratamento disponíveis hoje são potentes, bem tolerados e individualizados. A terapia antirretroviral reduz a replicação viral, fortalece o sistema imune e permite que pessoas em tratamento adequado tenham qualidade e expectativa de vida muito próximas à da população geral.
DIFERENÇA
A médica relembra um ponto fundamental: HIV é o vírus; aids é a síndrome que surge quando o sistema imune está gravemente comprometido. Entender essa diferença ajuda a compreender que o diagnóstico precoce e o início imediato da terapia evitam a evolução para a aids e mudam completamente o prognóstico.
ALERTA
Na fase aguda, sintomas como febre, ínguas pelo corpo, dor de garganta, manchas avermelhadas, dores musculares, diarreia e feridas em mucosas podem indicar infecção recente. Já na fase avançada, perda de peso, febre persistente, tosse prolongada e alterações neurológicas merecem atenção imediata. Após qualquer exposição de risco, a orientação é buscar avaliação e testagem o quanto antes.
DESAFIOS
Entre adolescentes e jovens adultos, Vanessa observa barreiras como a sensação de invulnerabilidade, tabus relacionados à sexualidade e o medo do estigma. A dificuldade de acesso a serviços de saúde por vezes agrava esse cenário e reforça a necessidade de ações educativas mais próximas desse público.
DESINFORMAÇÃO
Para a especialista, o estigma ainda é a maior barreira. O medo do julgamento alimenta a desinformação e afasta as pessoas da testagem e do tratamento. Por isso, campanhas como o Dezembro Vermelho têm papel decisivo ao promover informação correta e incentivar um ambiente de acolhimento.
INFORMAÇÃO
Vanessa lembra que todas as unidades de saúde do município oferecem testagem, orientação, tratamento, além do acesso à PrEP e à PEP pela rede do SUS. O atendimento inicial pode ser realizado diretamente nessas unidades. Para encerrar, a médica reforça a mensagem central da campanha: prevenir, testar e tratar são pilares fundamentais para conter o avanço da infecção.
“Informação salva vidas. Previna-se, teste-se e saiba que há tratamento eficaz que preserva a saúde, melhora a qualidade de vida e evita transmissão. Combater o estigma e apoiar quem vive com HIV são atitudes essenciais e o Dezembro Vermelho é o momento ideal para lembrar tudo isso.”
*Reportagem publicada no Jornal O Celeiro, Edição 1908 de 11 de dezembro de 2025.


