Luto no contexto da adoção

Falar de Lutos e perdas no contexto da adoção, justifica-se por: a adoção em diversos casos ser motivada pela infertilidade de um dos parceiros, ou ainda, pela perda gestacional ter ocorrida uma ou mais vezes, ou a morte de um filho deste casal , assim,  o luto faz parte da história deste casal, futuros pais adotivos.

É importante destacar que a adoção neste contexto citado acima, será bem sucedida, se houver elaboração deste(s) luto(s), e não, que esta adoção venha para substituir o filho que morreu, o filho idealizado ou esperado, para que assim, este filho adotivo não venha para ocupar um lugar de um filho morto, ou um aborto, mas sim, que mesmo que isso faça parte desta história familiar, o filho adotivo tenha um lugar especial e novo, o aguardando nesta família. Por todos esses motivos, é crucial o fechamento de ciclos, aumentando sua disponibilidade para iniciar novas histórias, como aqui discutido, a adoção. Sendo assim, a adoção deve ser vista como uma forma de acolhimento da criança que já sofreu grandes rupturas em seus vínculos primários.

Os lutos que envolvem a história anterior do casal podem estar atrelados, no luto de não gestar um filho, abortos ocorridos, a impossibilidade de não transmitir geneticamente suas características ao filho do casal, dentre outros. No aspecto da criança que está disponível para adoção, seus lutos perpassam a perda da família de origem, pois não podemos esquecer que no processo de adoção não existe somente o sentido de ganhar uma família, existe o sentimento de perder uma outra, a de origem, que indiferente dos motivos pelo qual justificam o rompimento deste vínculo, aquela é a família de origem da criança. A adoção deixa claro o desligamento com esses pais, parentes e rede social desta família, por isso o período de abrigamento e/ou adaptação à nova família também tem a função para a criança entender essas mudanças e olhar além das perdas, os ganhos que esse processo pode proporcionar.

Quando essas histórias se cruzam e se aproximam, o vinculo afetivo entre filho e pais, como nos casos de filhos biológico, tem a necessidade de ser pacientemente construído e permanentemente cuidado, havendo também, dificuldades neste percurso, pois algumas crianças expressam uma resistência diante dos pais adotivos como uma tentativa de preservar os laços com sua história de origem. Outras, ao contrário, assumem precipitadamente uma nova identidade pelo medo de não serem aceitas. Assim, sugere-se que o novo ambiente familiar ofereça possibilidade a esta criança se expressar livremente neste novo espaço que deve ser de acolhimento pleno de suas necessidades emocionais e afetivas.

Em algumas histórias de adoção, em que depois de inserida acontece a devolução, que é quando uma família durante o estágio de convivência pré-definido junto ao processo de adoção, decide romper o convívio com esta criança e ela retorna para espaço de abrigamento, esta situação define-se também por perdas e luto. A perda desta família, desta história, destes vínculos e papeis familiares. O adotado se sente rejeitado e vai lidar com o luto por esse abandono, indiferente dos motivos que embasaram essa devolução

Pelo contexto exposto, o suporte psicológico tem participação na avaliação dos adotantes, é indicado também durante o processo de adoção e após a adoção, com o objetivo de acompanhar a adaptação e a vinculação desta criança com a família adotiva, tendo ou não histórico de perdas, esse acompanhamento é fundamental. A resiliência, sem dúvida, convida tanto aos pais adotivos, quando as crianças adotivas a vivenciarem esse conceito de resiliência, que nada mais é, que lidar com situações difíceis, e ainda, crescer na adversidade e fortalecer a criatividade para encontrar soluções alternativas.

Por: Flavia Darold – CRP 12/09196
Núcleo de Psicologia de Campos Novos

*Artigo publicado no jornal “O Celeiro”, Edição 1503 de 02 de novembro de 2017.

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