Do tradicionalismo ao resgate da história
Benito Zandoná conta como construiu, com a herança deixadas por seus avos, um acervo de recordações que retratam o tradicionalismo da região.
Campos Novos, enquanto município constituído, tem uma herança marcada por muitos povos. Nos anos mais recentes foram os gaúchos, os italianos e os alemães que se firmaram na região e deixaram uma forte herança cultural que até os dias de hoje é respeitada. Passado de geração em geração, os costumes e tradições são mantidos. Muitas famílias tradicionalistas fazem questão de perpetuar estas lembranças. Mas apesar do empenho durante um tempo a cultura tradicionalista ficou um pocuco esquecida.
Em anos recentes o município tem mantido muitas atividades voltadas ao tradicionalismo. Aulas de dança gaúcha, indumentária tradicional, bailes gaúchos são incentivados através da Fundação Cultural Camponovense. Antes da pandemia presenciávamos vários eventos que remontavam uma Campos Novos de outrora. Era bonito ver jovens e idosos a caráter, orgulhosos de carregar esta raiz cultural.
Os anos se passaram e ninguém que presenciou o início destes 140 anos está entre nós, mas as histórias e os objetos foram deixados de pais para filhos. Os amantes dessa história, mesmo nos dias de hoje, podem conferir os artefatos e fotos que sobreviveram ao tempo e retratam a realidade vivida há décadas.
Inaugurado em 2007, o ‘Galpão Caipora Viu’, não tem muitos anos de vida, mas o que ele hospeda em seu espaço tem um rico significado e representatividade ao tradicionalismo camponovense. Benito Zandoná, filho de italiano chegado ao Brasil em 1951, herdou um acervo de antiguidades de seus pais e avós, mas não guardou para si. Ele decidiu expor num galpão para que todos pudessem conhecer um pouco da história da Campos Novos.
Relembrando a vinda de seu pai para o Brasil e seu encontro com sua mãe em terras camponovenses, Benito relata um pouco da trajetória de sua família. Confira o início deste enlace e como foi formado o Galpão Caipora Viu, importante espaço de valorização do tradicionalismo de Campos Novos.
“Meu pai, Benedito Zandoná, tinha um irmão que era padre em Campos Novos e queria vir para a América, pois depois das guerras eles sofreu muito e veio embora para o Brasil encontrar o irmão. Ele morou com os padres por um tempo e ajudava nos serviços gerais. O irmão dele o incentivou a trabalhar nas serrarias, que era o forte da região. Alguns padres consideraram que o serviço na serraria era muito pesado, e um deles o ensinou o ofício de fotógrafo. Com o tempo ele fez um estúdio de fotos e trabalhou no ramo durante uns 5 anos. Nesse interim achou uma namorada, que é a minha mãe. A princípio o namoro não foi bem aceito pela família da noiva, que tinham um certo preconceito contra ele. Mas ao perceber que ele era boa gente aceitaram o fato. Daí vieram os filhos. Na década de 70 ele abriu um bazar, na época era uma das melhores lojas de Campos Novos, era uma loja muito sortida”, conta.
Deste ofício de fotografo, seu Benedito deixou mais de 12 mil fotos de Campos Novos. Quem acompanha o jornal ‘O Celeiro’, deve conhecer o quadro ‘Nossa História em Fotos’, e o Benito é um grande parceiro ao nos ceder fotos de épocas e personalidades que viveram e ainda vivem aqui. Parte dessas fotos e de objetos deixados pelo pai e os avós constituem o ‘Galpão Caipora Viu’, um legado que Benito espera deixar para Campos Novos. “Eu tinha muitas coisas antigas guardadas em casa e o meu avô também. Nossa família costumava guardar coisa antigas. Um dia conversando com o Rafael Fachin ele me deu a ideia de fazer um galpão. Começamos a busca para a construção. O Galpão hospeda relíquias que simbolizam o tradicionalismo e o tropeirismo da região. Alguns dizem que a história de Campos Novos está aqui dentro. Eu tenho mais de 12 mil fotos das famílias e de Campos Novos do passado. Com o tempo o galpão ficou pequeno para tanta coisa, então aumentamos o espaço para caber todas os objetos. É muita história guardada. Recebemos muitas visitas, inclusive de alunos que vieram para conhecer a história de Campos Novos. Este é um legado. Muita gente me liga de fora para visitar o espaço. Eu não imaginava que o Galpão Caipora Viu teria toda esta repercussão”, declara Benito.
Mesmo com uma rica herança cultural, por um tempo o tradicionalismo foi deixado de lado, e como um grande defensor da cultura deixada por seu pai, Benito decidiu agir para resgatar um pouco da tradição do município. “No passado o tradicionalismo era muito forte. Nossa tradição teve um tempo adormecido. A semana Farroupilha parou por alguns anos. Dai decidimos ressurgir este movimento, começamos a realizar o Gaitaço, que hoje já chegou a 15° edição. Fizemos como forma de resgatar esta cultura. O surgimento do Galpão Crioulo também foi importante para o ressurgimento da cultura tradicionalista. Realizamos muitos bailes”, relembra Benito.
Em ano de pandemia, os eventos voltados ao tradicionalismo foram cancelados, mas Benito acredita que esta cultura tem longa vida e que com o fim da pandemia logo as atividades serão retomadas. “A cultura do tradicionalismo vem sendo passada de pais para filhos. Temos duas invernadas sensacionais, a ‘Porteira Camponovense’ e a ‘Invernada Artística’, Muitas crianças aprendendo a dançar, tocar gaita, violão. Esta é a nossa cultura. Isso nunca vai morrer, passa de um para o outro, de geração a geração. No geral vemos a cultura arraigada”, afirmou convicto.
*Reportagem publicada no jornal ‘O Celeiro’, Edição 1668 de 18 de março de 2021.