Resgate e valorização da herança cultural
Uma rica história que ainda não está sendo contada em detalhes nas escolas. Projeto prevê inclusão de matérias didáticos mais aprofundados sobre a fundação de Campos Novos.
Marli Becker não poderia estar de fora de nossa lista de protagonistas da seção ‘Quem Conta a História’ do jornal ‘O Celeiro’ em homenagem aos 140 anos. A data já passou, mas nosso compromisso em fazer este registro ainda está em andamento. Mais do que superintendente da cultura, Marli Becker é camponovense e por este município carrega um sentimento de muito amor. A frente do setor cultural ele tem atuado de forma a garantir a perpetuação das raízes culturais deixadas pelos ancestrais. Na Casa da Cultura muitos projetos foram desenvolvidos visando a valorização desta herança através da dança, indumentárias e costumes tradicionalistas. Mas para Marli não basta só isso, ainda há trabalho a ser feito para que esta rica cultura seja regatada, preservada, valorizada e arraigadas na mente das próximas gerações.
O setor cultural tem Marli como aliada, que junto com sua equipe, tem costurado a cultura a diversos outros setores importantes para promover o desenvolvimento do município. Além do trabalho que é feito há anos, a iniciativa mais recente é a elaboração de matérias didáticos voltados a contar com mais detalhes sobre a história de Campos Novos. Marli relata como surgiu a ideia. “Há cerca de três anos começamos um projeto para colher mais informações sobre Campos Novos. Nossa intenção não é apenas preservar, mas resgatar o que ainda não conhecíamos. Ouve-se muitas histórias com pessoas mais antigas, que contam o que ouviam de seus antepassados. No passado as famílias tinham o hábito de se reunir e contar histórias. Hoje este costume está se perdendo. Baseado nesta realidade nós buscamos desenvolver um projeto de resgate histórico para trazer o conhecimento de nossas raízes as próximas gerações”, contou.
O Projeto denominado ‘Das Origens ao Pertencimento’, tem como pesquisadora a professora Enedy Padilha da Rosa que está aumentando ainda mais seu conhecimento e experiência neste trabalho. Em andamento, o projeto emergiu novas informações sobre muitos fatos que, como Marli revela, ela mesma não sabia. “O que nós estudantes conhecemos desde criança era uma história muito superficial. Entramos em contato com a secretaria de educação que confirmou a necessidade de mais materiais didáticos para trabalhar com as crianças. Muito se falava que João Gonçalves de Araújo foi o descobridor de Campos Novos, mas sabemos que os primeiros a passar aqui, depois dos indígenas, foram os tropeiros. Eu fiquei surpresa ao saber que a rua são João Batista, a primeira rua de Campos Novos, era uma passagem para os tropeiros e ali se formou a primeira capela e o primeiro vilarejo”, declarou.
Aos poucos as famílias se formaram dando início as sociedades camponovenses. A mistura de nações e povos deu origem a atual população camponovense. Os tropeiros tiveram grande importância no desenvolvimento de Campos Novos que se deu a partir do comércio de mercadorias. Após o início do vilarejo surgiram outras ruas. Hoje se encontram famílias tradicionais que são descendentes dos tropeiros e posseiros de terra. “Tivemos uma povoação baseada nos italianos, alemães, poloneses e portugueses. Além deles, outros povos de outros estados, como São Paulo e do Rio Grande do Sul se estabeleceram aqui. Campos Novos tem uma variação grande de etnias”, diz Marli. Todas essas informações estão sendo apuradas de forma minuciosa e serão utilizadas na produção deste material. “Em 2022 queremos disponibilizar este material nas redes municipais, estaduais e privadas do município”, completou.
Além da educação, a cultura também é forte aliada do turismo, e por isso a Fundação tem investido em mais um projeto que refletirá no fomento deste setor. Marli relata como isso acontecerá. “A Fundação Cultural lançou um curso de culinária, que foi interrompido devido a pandemia, mas já retornou com o objetivo desenvolver pratos típicos da região feitos com alimentos produzidos no município. Possivelmente no mês de novembro realizaremos um ‘Festival de Pratos Típicos’. Também temos a produção de alimentos feitos por pequenos produtores rurais, como o queijo, o salame, o mel, que ainda não está sendo trabalhado turisticamente”, afirmou.
O envolvimento de Marli com o desenvolvimento do município não é de hoje, há anos ela, mesmo de forma voluntária, se comprometeu em deixar um legado de amor e orgulho pelo município de Campos Novos. Sobre um passado não tão distante ela relembra dos esforços empreendidos para que Campos Novos oferecesse o melhor aos camponovenses. “Olho para trás e vejo uma grande contribuição que demos. Por exemplo, no passado as pessoas corriam para Joaçaba para fazer compras, e até para prestigiar o natal e as iluminação da cidade. Em meados de 2006 mudamos este cenário. A primeira iluminação de Campos Novos foi feita pelas nossas mãos. Trabalhávamos até a madrugada. Mesmo sem dinheiro nós iniciamos as decorações do município. Criamos um concurso da loja e da casa mais decorada. As pessoas se empolgavam e deixavam suas casas bem iluminadas, assim como o comércio. Aos poucos a cidade foi se desenvolvendo e hoje temos um espetáculo na praça no natal”, declara.
Marli sabe que todo este trabalho não foi em vão e acredita que as futuras gerações reconhecerão tudo que foi feito. “Estamos trabalhando para estes jovens para que eles desenvolvam amor ao município e que no futuro eles sejam os nossos representantes e nos orgulhem. Eles têm um potencial. A Fundação está trabalhando este resgate histórico na educação e fazendo o possível para prepará-los para que dêem sequência a este trabalho com amor e orgulho por Campos Novos”, finalizou.
*Reportagem publicada no jornal ‘O Celeiro’, Edição 1672 de 15 de abril de 2021.