Tropeada da Fé: Cavalarianos de Campos Novos pagam promessa e concluem caminho até o Santuário Nacional de Aparecida

Trajeto teve duração de 30 dias e contou com a devoção e colaboração de muitos amigos pelo caminho.

Movidos pela fé e guiados com as bênçãos de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil, Evandro Galiotto, Siro Noriler, Sandro Noriler e Dilvo Dalpiva percorreram aproximadamente 1.300 quilômetros, de Campos Novos até o Santuário Nacional de Aparecida, em Aparecida do Norte, no estado de São Paulo. Ao todo foram exatos 30 dias de tropeada, que teve início no dia 07 de junho.

Os “Amigos da Tropeada”, como ficaram conhecidos, tinham motivações distintas, mas um objetivo em comum: homenagear e agradecer a Mãe Aparecida. A ideia da expedição partiu de Evandro Galiotto, o Parente, que há oito anos fez uma promessa de ir a cavalo até ao Santuário Nacional de Aparecida do Norte, para agradecer uma bênção familiar.

Naquele momento da promessa, ele não tinha muita noção de como faria o trajeto, porém se comprometeu que em 10 anos cumpria com o propósito. Os anos foram passando e, segundo Parente, há três anos, durante uma tropeada realizada na região, confidenciou o propósito com o amigo Siro Noriler, que se prontificou a integrar na tropeada, e assim, começou de fato a preparação para a jornada.

A programação teve efetivamente início no ano passado, por questões particulares e pelo bem-estar animal, resolveram realizar a tropeada no mês de junho. Antes de partir com destino à Aparecida do Norte, entretanto, fizeram um teste até Erval Velho, cujo qual, fez repensar os planos do grupo.

“Antes de irmos, fizemos contato com o pessoal de São Paulo, fomos atrás de muitas informações e fizemos um teste até Erval Velho. Pela questão da pista, alguns pontos muito estreitos de acostamento, nos fez sentir muito medo, os caminhões passavam muito próximos da gente, qualquer descuido poderia ser fatal e isso quase frustrou os nossos planos”, comentou Evandro.

Após esse episódio, contudo, Evandro ficou sabendo de dois tropeiros da cidade de Santa Cecília, Cléber e Xirú, que haviam realizado o trajeto até Aparecida do Norte no ano passado. Diante dessa informação, os camponovenses foram até eles buscar mais detalhes da expedição e de lá saíram com várias orientações e muito confiantes para dar início à tropeada, que saberemos em detalhes a seguir, na entrevista exclusiva de Evandro Galiotto ao Jornal O Celeiro:

  • Como foi a composição do grupo que fez o trajeto até Aparecida do Norte?

Siro e eu levamos dois animais cada, usávamos um animal por dia, ou seja, andávamos um dia com um animal enquanto o outro descansava. Dilvo levou um animal, porém, fazia parte da tropeada um dia sim e um dia não. Já Sandro Noriler foi de caminhão nos acompanhando, ele levava os animais, os mantimentos nossos e o trato dos animais, além de auxiliar como o nosso “GPS”.

  • Quando vocês saíram de Campos Novos, tinham ideia de quanto tempo levariam para chegar ao destino?

Por meio da conversa que tivemos com os amigos de Santa Cecília, que somos muito gratos a eles, tínhamos como base os 32 dias que eles levaram para concluir a expedição. Imaginávamos que levaríamos um pouco mais que isso, afinal, demoramos três dias para chegar até Santa Cecília. No entanto, fizemos uma estratégia um pouco diferente da adotada por eles. Durante os trinta dias, saíamos cedo, por volta das 6 horas da manhã e fazíamos o trajeto durante o dia até chegarmos no pouso, por volta das 18 horas, sem parar para o almoço, mas levando um lanche para comer no caminho.

O propósito era chegar, não estávamos numa competição, se levássemos 30 dias, 40 ou 50 dias, o nosso ideal era chegar até o destino e graças a Deus e à Nossa Senhora Aparecida, chegamos, todos bem e em segurança.

  • Além dos amigos de Santa Cecília, vocês receberam apoio de mais pessoas?

De muitas pessoas, que se começar a citar vou cometer o erro de esquecer de muita gente. Mas o povo das cidades que passamos foram muito hospitaleiros, para se ter uma ideia, fizemos boa parte da viagem, mais precisamente até Ponta Grossa, sem precisar consumir os nossos mantimentos, pois a rede de amizade que fizemos ao longo do trajeto totalizou mais de cem companheiros. Muitas pessoas ficavam sabendo do nosso propósito e nos acompanhavam a cavalo por três, até quatro dias, teve dia que estávamos em 14 cavaleiros. Até na questão do pouso, muitas pessoas abriram as portas das suas casas e fazendas para que nós descansássemos, e temos uma gratidão eterna por todas elas.

  • E a maior parte do trajeto, foi cortando cidades ou interior?

Nossos amigos de Santa Cecilia nos orientaram e a maior parte, quase 90% do trajeto que fizemos, foi por estradas de terra do interior. Refizemos, inclusive, trajetos dos tropeiros da década de 50, que levavam as tropas de mulas para o estado de São Paulo. Passamos por carreiros, tivemos contato com paisagens exuberantes, como cânions e quedas d’água, foram dias abençoados do início ao fim da nossa jornada.

  • E como foi o cuidado com os animais?

Optamos por animais fortes, como mulas, burros e um cavalo crioulo, mas como mencionado, o animal que caminhava durante um dia, folgava no outro. Por onde passamos tinha bastante locais para darmos água aos animais, no próprio caminhão que nos acompanhava, tinha água e trato. Saíamos cedo, ao longo do percurso parávamos para dar comida e deixar os animais pastorejarem e seguíamos a viagem. Quando parávamos, aí sim, tratávamos os animais, e aquele que fez o trajeto ganhava um descanso por mais de 24 horas. Inclusive, quando chegamos em Aparecida do Norte, já tinha um veterinário esperando para avaliar os animais.

  • Qual foi o momento de maior dificuldade?

Chegamos a ficar num certo ponto da viagem, 12 dias sem ver uma cidade sequer, porém, eu não posso dizer que enfrentamos dificuldades. A fé em Nossa Senhora Aparecida nos fez superar o cansaço, a saudade da família e todas as intempéries do trajeto. Nossa Senhora Aparecida guiou o nosso caminho e colocou pessoas abençoadas que nos auxiliaram durante o percurso. Há três dias de chegarmos ao nosso destino, inclusive, encontramos cavaleiros de Indaiatuba, que estavam há oito dias na estrada, e seguimos com eles no restante do trajeto.

  • Como era o contato dos familiares que ficaram em Campos Novos durante a viagem?

Apesar das dificuldades de comunicação, sempre que possível procurávamos mandar informações e também saber como eles estavam por aqui. Minha esposa, aliás, está grávida, mas ficou bem assessorada com os familiares que aqui residem. Nos dias que antecederam o cumprimento do percurso, a ansiedade foi batendo, fazíamos alguns vídeos e as mensagens que recebíamos dos amigos e familiares nos deu muita força e capacidade para continuar com o nosso propósito.

  • Como foi a chegada em Aparecida do Norte?

Foi um momento de extrema emoção. Há cerca de cinco quilômetros a gente já consegue avistar a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, e o coração bate mais forte, e chegar lá foi a realização de um sonho. Chegamos na sexta-feira, familiares do Dilvo e do Sandro estavam lá nos esperando, conheci o Santuário, que nunca tinha ido antes e participamos da missa. No sábado, retornamos de caminhão para Campos Novos e chegamos na madrugada de domingo.

  • Para finalizar, pensa em repetir a tropeada?

Tenho em minha cabeça, que se Deus quiser e Nossa Senhora Aparecida abençoar, farei novamente esse caminho. Não sei dizer se será daqui dois anos, cinco anos ou até mesmo ano que vem e digo mais, se alguém tem o mesmo propósito do nosso, pode contar com a gente, estamos à disposição para ajudar.

*Reportagem publicada no Jornal O Celeiro, Edição 1787 de 13 de Julho de 2023.

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