Crise reduziu consumo de carne e afetou diretamente a pecuária

Produtor avalia que dependência do mercado interno é grande e redução no consumo de carne impactou o setor.

Num ano em que a pecuária de corte sofreu pressões de diversos lados, devido a uma série de fatores como o fraco consumo da proteína bovina, a operação Carne Fraca, a volta da cobrança do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural) e a delação dos sócios da JBS e sua controladora J&F, os produtores não desanimaram.

Foi o que se viu nos eventos pecuários realizados na região, em que os negócios aconteceram mesmo em meio à crise. O produtor não descuidou dos investimentos em genética e entrou no segundo semestre com uma expectativa de melhoria no setor.

Nossa reportagem visitou na última semana a Cabanha Ponche Verde, localizada no Distrito de Ibicuí, em Campos Novos/SC. Fundada em 1981 pelo Médico Veterinário Jair Noriler, a Cabanha dedica-se a criação de Charolês PO (Puro de Origem), com destaque na seleção da variedade mocha. Utiliza a Inseminação Artificial e TE (Transferência de Embriões). Na Ponche Verde também  criam-se Ovinos Hampshire Down com destaque as linhagens neozelandesas Teviotdale Toropuke, importadas há 4 anos da Nova Zelândia. Também foi introduzida recentemente a linhagem argentina, além da criação de ovinos da Raça Crioula e venda de carneiros Prov III.

A Cabanha comercializa reprodutores e matrizes de Charolês e Hampshire em exposições e feiras da região e diretamente na propriedade.  O proprietário Jair Noriller, falou sobre a situação do setor pecuário, que na sua opinião, depende muito do mercado interno.

“Estamos enfrentando algumas dificuldades nos últimos anos, principalmente devido à diminuição do consumo da carne no Brasil. A carne que nós produzimos, o boi que produzimos 80% é consumo interno, apenas 20% é exportado. As exportações tem um peso importante porque retornam em dólar, em moeda forte. Nós dependemos muito do mercado interno e com a crise dos últimos tempos e o desemprego, as pessoas passaram a consumir muito menos carne e isso impactou fortemente a pecuária, já que tínhamos um excesso de 7 milhões e duzentas mil cabeças antes da crise no mercado. Com a crise agravou muito mais isso”, avaliou Noriler.

A tendência neste segundo semestre, porém, é de normalidade, afirmou o pecuarista, com o mercado em franca recuperação, o que deve repercutir na retomada da geração de emprego e renda.

“Espero que o brasileiro tenha aumento no poder aquisitivo, que o pessoal recupere seus empregos e que volte a consumir, para que a gente possa voltar a produzir a pleno vapor e ter renda. A renda caiu muito na pecuária e os custos continuaram os mesmos e até subiram, os preços dos nossos produtos ficaram estagnados e até reduziram em alguns casos. Nós na Ponche Verde nos dedicamos à produção de genética, produzimos reprodutores e matrizes da raça charolesa e ovinos para reprodução, é a única propriedade que faz registro de ovinos em Campos Novos. Conquistamos um mercado bem amplo ao longo desses 36 anos e quase não tivemos problemas de venda dos nossos animais, mas a gente já nota alguma redução nos investimentos, as pessoas já pensam duas vezes em adquirir um reprodutor puro”., considerou ainda o pecuarista.

Incentivo na aquisição de reprodutores

Jair Noriller também avaliou de forma positiva Projeto de Apoio à Aquisição de Reprodutores Bovinos de Raças de Corte, que oferece financiamentos para que os produtores rurais possam investir no seu rebanho. O programa da Secretaria de Estado da Agricultura de Santa Catarina tem por objetivo aumentar a qualidade do rebanho catarinense, apostando no melhoramento genético dos bovinos.

“Sem dúvida foi muito importante o lançamento deste programa pelo Governo do Estado. Nós mesmos aqui na Cabanha Ponche Verde vendemos de 4 a 5 animais financiados por meio deste programa. É um programa muito bom que incentiva o pequeno produtor a adquirir animais puros e melhorar sua genética”.

Pelo programa, os produtores que tem uma renda de até R$ 360 mil por ano, podem  financiar touros até R$ 20 mil e vão pagar isso para o nosso Fundo de Desenvolvimento Rural em até 5 anos, com juro zero.

Pastagens Recuperadas

A estiagem que atingiu o estado entre os meses de agosto e setembro com 43 dias sem chuva na região, deu uma trégua e com o volume de precipitação registrado desde a semana passada, as pastagens estão recuperadas. Os prejuízos no entanto, já foram contabilizados pelos pecuaristas.

“Os 43 dias de estiagem prejudicaram muito as pastagens, principalmente de aveia e azevém, que tiveram um atraso considerável. Registramos problemas inclusive de água onde secaram os bebedouros e tivemos que remanejar os animais para as beiras de rio, onde havia água. A consequência foi um atraso no gado que estava na engorda, nos animais de recria também, que representa prejuízos. A chuva já recuperou muito as pastagens e isso já um alento para os pecuaristas”, concluiu o produtor.

*Reportagem publicada no jornal “O Celeiro”, Edição 1500 de 12 de outubro e 2017.

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