“Dois mil e quinze: o ano inesperado”

GAVA_Foto artigoDois mil e quinze vai terminar como um dos anos mais inesperados da década. Não estou esquecendo a crise severa que vivemos no final de 2008, agravada por enchentes e deslizamentos que devastaram nossa economia – mas aí tivemos o fator surpresa trazido pelo desastre natural. Conseguimos superar as perdas e ainda bater recorde de arrecadação no ano seguinte. Mas dessa vez é diferente. O desastre agora é político.
Nem os mais aclamados analistas econômicos pintariam um quadro tão desestabilizador de recessão. Os mais pessimistas projetavam PIB de -1%; deveremos chegar a -3%. A indústria, que projetava crescimento de 1% na produção deverá fechar o ano com -7%. A inflação, que deveria chegar ao topo da meta, tem tudo para chegar aos dois dígitos. Para segurar os preços, a taxa de juros Selic também deve superar a previsão de 12% e chegar aos 14%. O dólar, cujo preço deveria chegar a R$2,80, chegará perto de R$4,00. O capital está fugindo do país, que consequentemente está perdendo seus selos de bom pagador. A consequência mais cruel de tudo isso é a perda do emprego para quase 1,2 milhão de brasileiros.
Eu mesmo cheguei a declarar publicamente, pouco mais de um ano atrás, que 2015 seria um ano bom para a economia, independente do resultado das eleições. Também publicamente reconheci meu erro. Já escrevi neste espaço que a origem de toda essa situação está nos desmandos da política. E aí o nosso poder de intervenção é muito pequeno. O que se decide nos gabinetes, especialmente em âmbito federal, tem impacto direto nos nossos bolsos. E o retrato nacional deste final de 2015 nos exibe a imagem do que acontece quando não se está preparado para lidar com imprevistos.
Independentemente da causa, o país não tinha reservas para lidar com a situação. As contas públicas inchadas já há muito apenas escancararam a indisciplina fiscal histórica do nosso país. Quando finalmente se acenava com um programa razoável de ajustes, mais uma vez veremos a política atravessar o samba.
Aqui em Santa Catarina também estamos sentindo os fortes impactos dessa desarmonia da política econômica. Se ainda estamos resistindo, é porque cultivamos ao longo dos anos a cultura da disciplina fiscal. O princípio básico de fazer as despesas caberem dentro das receitas tem sido o nosso mantra há muito tempo. Somente por isso somos hoje o Estado com a menor taxa de desemprego do país e um dos poucos que não aumentaram impostos. Mesmo em meio à crise, vamos pagar sem atraso a segunda parcela do 13º salário e antecipar a folha de dezembro para o funcionalismo público. Uma verdadeira proeza, considerando a situação de estados vizinhos que não estão pagando ou precisam parcelar salários. Mas não sei se resistiremos a outro ano como este.
Depois do que vivemos em 2015, fica difícil arriscar números para o ano que vem – que deverá ser ainda mais imprevisível a depender do encaminhamento do processo de impeachment. As projeções já apontam PIB negativo novamente em 2016. Nos resta continuar fazendo o dever de casa bem feito e torcer para que os economistas errem de novo. Dessa vez para melhor.

Por: Antonio Gavazzoni

Doutor em Direito Público e Secretário de Estado da Fazenda
contatogavazzoni@gmail.com

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